Recordações

Nasci e me criei no interior de Pinheiro Marcado
Década 60
Sem Água
Sem Energia Elétrica
Sem nada
A gente se orientava pelo sol. Ao levantar víamos a cor do dia. Se teria chuva ou sol
Se haveria frio ou clima ameno.
Só tínhamos um Relógio Despertador.
Como era normal ir dormir logo ao anoitecer
Ao raiar do dia
Já estávamos acordando
Existiaj muitas atividades à serem feitas:
Principalmente a lida com animais
Ir na Mangueira
Manear as Vacas
Tirar Leite
Tomar café e depois ainda tipo 7 horas da manhã ir a pé para Escola.
Pelo que havíamos passado a gente morava em um galpão velho de chão batido, telhas de barro e paredes envelhecidas.
Sem conforto nenhum
Tinha uma repartição se tornando duas peças com uma porta lateral, a porta do oitão e uma pequenina janelinha.
Tenho muitas recordações mas
a primeira Lembrança da minha Infância
Era Um Rigoroso Inverno Sulino
Talvez uma das noites mais frias que já presenciei na minha vida.
Mês: Agosto
Dia 05
Ano: 1965
Eu então com 5 anos
Meu irmão com 10 anos já estava no colégio.

Lembro até hoje
De manhã cedo
Ele abriu a porta olhou ao redor
e disse
- Caiu Geada a Noite Inteira
- Tá caindo até agora
- Mas dá pra ir pra Escola

Meu pai já idoso - mas com enorme experiência de Vida disse
- "Já é dia claro
Não pode ainda tá caindo Geada"

Resultado:
Realmente Não era Geada
Foi o dia da Maior Neve na Região do Planalto Médio Gaúcho

Neve que começou a cair de Madrugada e se estendeu o dia todo até anoitecer

Meu pai disse:
"As telhas não vão aguentar
Precisamos sair daqui o mais breve possível"

A casa nova já estava sendo construída quase pronta - mais resistente assoalhada.
Seria uns 20 metros do galpão
Mas a Neve já tinha bloqueado tudo.
Só restou
Pegar pá e enxada e abrir Caminho para sair do galpão.
Lembro que minha mãe pegou uns cobertores e a gente literalmente foi para a casa nova
Acredito que ela tenha levado junto algum alimento tipo pão leite ou salame
Pois na casa nova
Não tinha nada nem cadeiras nem fogão nem mesa
Passamos o dia enrolados nas cobertas
Literalmente olhando a Neve cair pelas vidraças e formar grossas camadas de gelo.
O aspecto era lindíssimo
Inesquecível
Mas o frio era intenso
Os animais ficaram o dia todo perplexos ao redor da estrebaria sem saber o que estava acontecendo não tinham nada para se alimentar.
E não tinham coragem de ir pro pasto.
No outro dia ainda na casa nova através das vidraças vimos a neve começar a
se dissipar.
No terceiro dia o clima estava gelado, muito frio, ainda tinha flocos de neve embaixo das árvores mas nesse dia
mas o sol apareceu fraquinho entre as nuvens, parece que queria dizer
- Eu voltei.
As vacas famintas tentando achar alimentação se dirigiram aos pastos.
A vida ia voltando ao natural e a gente voltou para nossa morada (o galpão) pois ali tinha as camas, mesa, cadeiras e o calor do fogo no fogão de lenha improvisado.

Bem depois - década de 80 - vi flocos de neve em Carazinho e na UPF (Passo Fundo) também na Serra Gaúcha em Gramado.
Mas nenhum teve a Intensidade e a magnitude daquela Grande Nevada.

Passados quase 60 anos
Esse fato está presente em minha vida
Sempre Lembrarei da Grande Neve de 1965.
Que foi um Marco na História da vida de muita gente

Com certeza a maioria das pessoas nunca viu algo de tamanha intensidade.
Não sei se foi Fenômeno Raro da Natureza, Magia, Encanto ou Frio Excessivo mas mudou a paisagem deixando uma grande região totalmente branca e gelada.

Como citei acima no terceiro dia os raios solares dissiparam os flocos de neve
Nas minhas Recordações ficará eternamente como sendo a Grande Nevada da minha infância.

Fátima Dorneles G. da Rocha.
Carazinho RS.

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Inspiração

Lembranças da minha infância

Sobre a obra

Texto livre, sobre a minha história

Sobre o autor

Fátima Dorneles
Advogada, Bancária, Escritora

Autor(a): FATIMA DORNELES GUARESCHI DA ROCHA ()

APCEF/RS