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Sítio Refúgio
Ontem à noite, em minha costumeira insônia, comecei a lembrar de coisas do passado, e o Refúgio me veio à mente. Eram quase 3 horas da manhã quando resolvi escrever. E hoje fui visitar este lugar, que embora deteriorado e palco de muitos acontecimentos tristes – a partida de vovô e vovó - ainda é, para mim, um lugar pra lá de especial.
Por mim, a família nunca se desfaria dele. São muitas lembranças e só este lugar tem o poder de trazer à tona a lembrança de uma maneira que seja possível sentir o cheiro da terra molhada que nossa ‘Carmelha’ tanto cuidava, sempre com seu ciscador e roupinha de dormir.
Em minha rápida visita, consegui ainda ouvir o barulho da pampa. Era vovô chegando em casa, com sua sacola de pão francês. Eita! Nessa hora era uma correria! Menino correndo para tudo o quanto é lado e vovó escondendo o cigarro. O vô Luisinho, apesar de acolhedor, era um sujeito mal encarado, à quem todos temiam.
Lembrei das partidas de futebol dos meninos, que quase sempre acabavam em briga. Lembro que usavam a porta do armazém como trave, e das vezes que substituíam a paixão nacional pelo violento jogo ‘betis’, que certa vez, arrancou os lábios de um.
E o pé de siriguela? Aposto que todos conhecemos cada centímetro daquela árvore. Aposto ainda que todos, nesse exato momento, lembraram da queda de Pietro. Tem também o pé de cajarana e as frondosas oiticicas. Meu Deus! É mesmo um lugarzinho especial!
Lembro ainda das noras, que todas as manhãs iam buscar sua porção de leite do gado que ali criávamos. Lembro que sempre calculava em minha mente: vai 4 litros para tio Humberto porque é um litro para cada filho.
E as piscinas? Palco do amor de tio Doal e Gerusa. Palco de muito churrasco, de muita festa natalina. Ainda me lembro dos papais noéis, das mesas fartas, dos presentes e de uma menina que caiu na piscina pequena na noite da festa, tadinha.
As piscinas foram ainda, motivo de muita labuta, pois, inconformados com sua inatividade, e mesmo sendo crianças sem nenhum recurso e sem o patrocínio de nenhum adulto remunerado, lutamos até o fim por ela. Não dava para aceitar: ver aqueles sapos e cobras desfrutando daquilo que era nosso. Fazíamos nossa limpeza com sabão omo e água sanitária, e a enchia com uma mangueira puxada da casa de vovó de Lourdes. E lá estava ela, nossa princesa, pronta para ser usada.
Lembro de tia Kátia chegando em seu fusca. Lembrei ainda de Vilma, que tinha a estranha mania de invocar o Satanás e sua moradia, a saber o inferno, toda vez que o vento soprava e espalhava o montinho de folhas que ela juntava para apanhar. Dava para ouvir lá de casa.
Lembrei de Apolo, minha primeira referência canina. Lembrei de Juninha e Pelé. Lembrei dos gatos, de Fred mais especificamente. Achava massa quando aparecia um camaleão.
Como não lembrar das nossas cidades de
areia? Lembro que Sabino sempre fazia os monumentos mais bonitos. Ainda tenho na memória a imagem do fórum da nossa cidade, que certa vez ele construiu. Recordo também da febre reumática que ele adquiriu depois de, por nós, ser enterrado na areia.
Em nossas noites, rodeadas de corujas, brincávamos de esconde-esconde. Lorena e Paulinha eram café com leite. Depois, cobertos de areia, íamos para o banho naquele minúsculo banheiro branco. Mas, o que queríamos mesmo , era nos deliciarmos da banheira de vovó!
Tem ainda a casa do morador e o curral, para onde os meninos iam cheios de revistas e lá descobriam sua sexualidade.
Adentrando o Refúgio avistei o açude. Quem não lembra da super engenhoca produzidas pelos engenheiros Yuri, Robertson e Pietro, com vistas à recuperação do velho açude? E os esconderijos? E as casinhas? Eram das galinhas, mas fazíamos delas aquilo que todo o Refúgio era para nós: um lar.
Minha última lembrança foi dos caldeirões de sopa, que reunia todos à mesa e adjacências. Não era muito boa, mas deixou em mim, uma de minhas lembranças mais valiosas. É por tudo isso, e muito muito mais, que o Sítio Refúgio, este lugar de valor imensurável, é para mim um lugar muito especial.
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Inspiração
As lembranças vívidas que guardo desse lugar à época da minha infância.
Sobre a obra
Relatei em forma de crônica tudo aquilo que guardo na memória e no coração. Narrei nomes, espaços e tempos, descrevendo acontecimentos simples, mas que guardei como grandes momentos inesquecíveis para mim.
Sobre o autor
Tenho uma veia escritora, desde criança consigo prender a atenção de todos em tudo que escrevo.
Escrevo com coração e ponho alma em cada palavra.
Sou uma bancária que ama escrever.
Autor(a): YURIANA LEOPOLDINA BANDEIRA S FREITAS (Yuriana Leopoldina)
RN
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