A vida é bela, disse uma vez o poeta. Mas... e a morte? A morte é ridícula! Passamos a vida quase toda ignorando-a, mas ela está aí. E todos sabemos que é a nossa única certeza, pois um dia ela chega. As vezes ela manda recado, mas muitas vezes não! Mas... porque morrer? Até hoje não conheci nada mais sem futuro que a morte. Não poderíamos, simplesmente, reiniciar quando chegasse a hora marcada? E se fosse assim, aprenderíamos após o erro fatal? Ou simplesmente deixaríamos totalmente de nos preocuparmos com ela, já que o retorno seria certo?
O certo é que a imprevisibilidade da morte termina por deixar a vida mais emocionante. A loucura da vida está na incerteza. Já tentaram imaginar como viver seria sem graça e sem propósito se cada um soubesse a data certa da sua morte? Dá até para imaginar diálogos como esse:
-“Eu te amo, casa comigo”?
- “Eu até casaria, mas como irei morrer daqui a 6 meses, prefiro escalar o Everest”!
Quantos casamentos não aconteceriam, quantos diplomas não seriam conquistados, quantos planos ficariam de lado! Afinal, sabendo que morreria antes dos 20, quem iria se preocupar em ir à escola aprender o teorema de Pitágoras? Será que Pitágoras teria se preocupado em saber o comprimento dos lados de um triângulo?? Se Steve Jobs soubesse que morreria com pouco mais de 50 anos, teria ele inventado o iPhone? Ou teria se aposentado na década de 80, logo após o sucesso do Macintosh? Os “Mamonas Assassinas” teriam ingressado na carreira musical sabendo que ela os matariam, ou teriam preferido a segurança do anonimato?
Infelizmente é assim mesmo que acontece: um dia você acorda e, sem saber, não irá mais dormir novamente. Ou pior: dormirá eternamente. Ficarão e-mails por responder, contas a pagar, mensagens não lidas e não respondidas, amigos, parentes, seu emprego, seu carro, todo o dinheiro da sua conta bancária, as roupas no varal, a louça suja na pia, seu filho te esperando para buscá-lo na escola. Irão com você todos os seus segredos, seus projetos, os sonhos, as esperanças, as palavras guardadas pra falar depois, os abraços não entregues e os sorrisos deixados para outra hora. Será que antes do “sono eterno” passaremos por uma inspeção, onde teremos que fazer um detalhado relatório sobre nossa passagem por aqui? Tenho medo disso, mas tudo por causa da incerteza. Se soubesse a data da minha partida, estaria numa praia, deitado numa rede, só tomando água de coco e esperando a hora marcada. Aí sim, o relatório seria aprovado sem ressalvas depois desse breve período por aqui. Breve, sim. Mesmo se forem 100 anos ainda é muito pouco, eles passam num estalar de dedos. E ninguém está preparado para uma vida breve. Mas, se pensarmos direitinho, se relermos esse texto, se começarmos a partir de agora a valorizar o que realmente importa, de repente poderemos preparar melhor as pessoas que chorarão a nossa morte. O morto nunca morrerá satisfeito... afinal, viver é tão bom, que morrer antes dos 100 é não ter vivido, é ter apenas suspirado.