Dar-se conta

DAR-SE CONTA

Nadia Macedo

A quantidade de roupas e coisas misturadas era tanta que se fazia necessário arrumar. Não havia outro jeito se não parar um pouco do meu dia para organizar o armário, gaveta por gaveta, separando o que não me servia mais. Dividir o que estava em bom estado para doar do que não tinha mais serventia. Abrir espaço para o novo e deixar a energia fluir. Não foram poucas as vezes que encontrei coisas que eu não lembrava que existia, assim como peças de roupas que nunca havia usado. Acumular coisas, entulhar, não usar ou usar sempre as mesmas vestes. O armário que, tantas vezes, arrumamos hoje está no sentido figurado. Imagine este armário sendo você. Você passa os dias acumulando informações e conhecimentos e, no fim, acaba usando sempre as mesmas vestes pois a bagunça é tanta que você não enxerga outras possibilidades. Este é momento de mexer no armário interno. Quando você se dá conta que não tem como continuar com ele assim cheio, sem espaço para o novo. É dado o momento quando você não se encontra mais naquele espaço, quando anseia pelo novo e não tem como recebê-lo. Hora de arrumar. Para ver com clareza o que você possui no armário, o primeiro passo é esvaziar, tirar tudo do lugar, mexer em cada gaveta. Neste processo agente encontra objetos que nunca foram usados e outros, que de tanto uso, estão gastos. Esvaziar para ter clareza. Esvaziar para enxergar o todo. O momento de abrir as gavetas é desafiador, pois junto com a vontade de arrumar vem a preguiça do trabalho que terá. Quando todas as gavetas estão vazias e coisas estão todas para fora, o questionamento do porquê eu comecei vem à tona com força. Dá preguiça. Da vontade de voltar atrás. De nunca ter começado, afinal agente já tinha até acostumado com o armário bagunçado. Mesmo a confusão incomodando ainda era cômodo. Mas é um caminho sem volta, não tem para onde correr, você já começou, tirou tudo do lugar, esvaziou as gavetas, é hora de continuar. Ou você arruma ou entulha tudo de vez. Você opta por arrumar. Você começa tirando tudo o que não te serve mais, que já está gasto, que está feio, e joga fora. Depois você vai separando o que está em perfeito estado, você até gosta mas acaba não usando, então doa. O que sobrou? Sobrou pertences que ainda tem serventia, seus valores, sua base, esses voltam para o armário. Quando você colocou tudo no lugar, você para. Para e contempla. Se admira pelo que fez, se sente feliz, sente que era preciso tomar esta atitude. E se dá conta de que há espaço para o novo.
Agora, algo é fato, não quer dizer que uma vez arrumado o armário permanecerá assim para sempre. Sempre é necessário ajustar. O ciclo não para. Voltamos a acumular e quando menos esperamos é dado novamente o momento de se esvaziar.






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Inspiração

Essa ideia surgiu nas minhas últimas férias que resolvi fazer um retiro de meditação durante três dias. Neste período era preciso ficar em silêncio, entrar em contato com a nossa essência.

Sobre a obra

O texto em forma de crônica, eu usei analogia comparando nós com um armário. Apontei a necessidade de se fazer uma limpeza nos dois para a energia fluir.

Sobre o autor

Eu sou jornalista por formação e escritora de coração. Gosto de escrever em horas vagas, quando tenho insights, ou até para desabafar. A minha escrita é muito reflexiva e funciona como uma terapia pra mim.

Autor(a): NADIA MACEDO ()

APCEF/SP