Talentos

Desmpregado

DESEMPREGADO

Jorge veste apressado aquela camisa de manga longa que só usa quando vai a algum casamento, veste sua única calça social; põe o cinto e os sapatos pretos bem engraxados. Arruma-se cuidadosamente em frente ao espelho; respira fundo e sai para mais uma entrevista de emprego que achou nos classificados.

São dois anos de desemprego. Repete quase todos os dias o mesmo ritual: Acorda cedo, currículo na mão, visita o maior número possível de empresas em busca de uma oportunidade. O nível de escolaridade não ajuda; a idade não está ao seu favor, mas persistente, luta como um guerreiro.

Aguarda impaciente na sala de espera decorada com mau gosto, e tenta disfarçar o nervosismo lendo uma revista de futilidade. As mãos suam, as pernas tremem, sente um incômodo frio no estômago. Olha repetidas vezes para o relógio de baixa gama.

Preocupado com a aparência, pergunta a secretária onde é o banheiro, a fim de conferir o visual. A moça, aparentando 20 anos, saia justa e curta, mascando vulgarmente um chiclete aponta para uma porta a esquerda.

Ele entra, ajeita a gola da camisa, passa um pente nos cabelos, dá uma conferida nos dentes para ver se estão limpos; ensaia diante do espelho como cumprimentar seu algoz. Com o visual conferido, volta para a sala de espera.

Dois candidatos ao emprego entram na sala, Jorge se preocupa com os concorrentes mais jovens e mais bem vestidos do que ele. Escuta atentamente a conversa dos dois, e percebe que se expressam melhor. Sente-se inferior, e no seu íntimo já sente a vaga escapar por entre os dedos.

A secretária se levanta e convida-o a entrar abrindo gentilmente a porta. Ele entra humilde na sala mal iluminada e com um ventilador girando lentamente no teto. Um senhor sisudo e calvo o cumprimenta sinalizando com a mão para que se sente na cadeira em frente.

O entrevistador começa falando sobre o emprego: Atribuições, salário, escolaridade, faixa de idade... Mais uma tentativa frustrada; não se encaixa no perfil desejado.

Sai dali, anda pelas ruas sem rumo, macambúzio, é um desânimo só. Dobra as mangas da camisa, abre o botão perto do pescoço, respira fundo como que tentando tomar fôlego para continuar.

Passa em uma banca e compra um jornal, senta num banco da praça, abre nos classificados e atento como um garimpeiro a procura de uma pedra preciosa, procura sem sucesso por seu tão sonhado emprego.

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Inspiração

Olhar para a realidade do país, as notícias quase que diária nas mídias sobre desemprego, o número alarmante de desempregados e a dificuldade em conseguir recolocação no mercado de trabalho.

Sobre a obra

Diante da alarmante taxa de desemprego no Brasil, resolvi escrever sobre o tema, de forma simples, retratando a vida de um homem em busca de emprego, que na verdade, é representa milhões de brasileiros.

Sobre o autor

Sou da área de Exatas, mas a palavra me fascina! Tanto pela beleza como pelo poder que carrega. Participei de alguns concursos literários, e tive a honra de ser premiado em todos.

Autor(a): EDIO WILSON DE SOUZA SANTOS (Pena D'ouro)

APCEF/ES