Talentos

Todo dia eu recomeço.

Todo dia eu recomeço.

As vezes eu acordo samba
E vou desfilar meu bloco na avenida da vida
Sou abre alas
Passista
Viro Porta bendeira
Levanto a arquibancada

De tropeço em tropeço
Sem estabilidade
Desequilibrada
Eu ando na corda bamba
E recomeço

Tem dias que sou jazz
Collant vermelho
Eu abro meus braços
E vejo a platéia
Eu me aplaudo de pé

Noutros acordo silêncio
Calada
Abandono
Me vejo ninguém
Despercebida levanto da cama empoeirada
Recomeço do jeito que dá
Sem querer ir

Eu não desisto

Todo dia viro outra página
Eu pego na corda da vida e afino meu violão
Faço sofrência virar melodia
Chamo o garçom pra me ouvir
Engato uma prosa
Desafino

Eu pago a conta
Eu sigo

Tem dias que pareço televisão
Eu me assisto
Revejo meu passado
Encontro meus versos rasgados na calçada das rosas

Eu sinto medo
Eu deixo de ser poeta
Eu viro palhaça zombada na boca de gente esquisita
A minha dor vira riso

Todo dia eu me vejo começo
Eu rasgo minha fantasia
Despida
Começo de novo o jogo
Visto trapos
Entro no palco e não pergunto se era minha vez
Eu me apresento de qualquer jeito
Pesadelo
Insônia
Tempo parado
Relógio quebrado

Todo dia eu recomeço
Nem sempre de onde parei
Eu perco o passo
Volto duas casas
Recrio, me invento

Tem dias que perco a hora
Atrasada
Levanto
Cansada
Desmedida
Excesso

Tem outros me vejo metade
Partida
Fim
Ressaca

Todo dia eu me tempero
Alguns coloco pimenta
Coentro
Cominho
Noutros sou sopa de doente
Sabor de hospital
Sem sal
Sem gosto
Mas eu me tomo todos os dias

Devagar
Eu me mastigo
Me devoro
Eu faço chá dos meus problemas
Hortelã
Canela
Capim santo
Misturo
Esfrio
Experimento

Tem dias que tô amarga
Cachaça
Limão
Azeda
Eu já acordei estragada
Eu tive que me espremer

Não importa
Todo dia enquanto houver vida
Eu recomeço
Sem ponto
Sem vírgula
Até o final.

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Inspiração

Eu tive síndrome de "bournout" em 2018 e percebi o quanto eu tenho coragem de recomeçar na vida.
Decidi usar o meu cotidiano aliado com a "fantasia do carnaval" para desenhar em palavras a importância de não desistirmos e motivar as pessoas a seguirem em frente também.

Sobre a obra

A minha obra é livre, eu não uso técnica específica, eu escrevo poemas livres.
Não gosto de muita coisa rimada, então procuro alternar as rimas em parágrafos diferentes

Sobre o autor

Eu sou Graziella, assistente de agência na avenida Ibirapuera, em SP. Eu comecei a escrever para aliviar minhas dores, anseios, expectativas e mostrei para alguns amigos, que me incentivaram a colocar esta arte no mundo.
Hoje eu tenho um instagram: @poesiaradasgaemversos e uma página no facebook com o mesmo nome.
Hoje escrever é minha paixão!

Autor(a): GRAZIELLA SILVA DE OLIVEIRA (Poesia Rasgada em Versos - Graziella Oliveira)

APCEF/SP