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FRIA E FINA FESTA
FRIA E FINA FESTA
Ontem fui a uma festa; festa de bacanas: políticos, juízes, desembargadores; socialites, e gente comum como eu, que estava ali por força do acaso ou do parentesco.
As mulheres estavam impecáveis em seus vestidos longos e salto alto. Parecia a entrega do Oscar. Os vestidos com muito brilho (embora ainda fosse dia), os cabelos armados, sustentados por laquê, muitas joias e imitações...
Contrariando toda a elegância, surgiu no corredor uma bela loira apertada em um vestido magenta revelando as costas e as curvas. De saltos finos e altos, andava bailando suavemente. Os cabelos dourados balançavam com sincronismo.
Estava um pouco acima do peso; mas estava muito bonita. Passeava de um lado para outro querendo chamar a atenção. E conseguiu!
Era uma solenidade do judiciário; o prédio imponente, o salão amplo e sóbrio com seus móveis de madeira escura trabalhados por exímio artesão; os corredores compridos e largos onde as pessoas que não couberam no salão conversavam sobre futilidade.
A sobriedade dos homens de ternos escuros e mulheres elegantemente vestidas, mais uma vez foi quebrada por outra loira, esta de saia curta e transparente. Era ainda mais bela e jovem que a primeira. As mulheres, na maioria de meia idade, olhavam com indignação e inveja; os homens, com curiosidade e cobiça.
Eram as únicas pernas à mostra naquele ambiente, e essas bem torneadas e esguias convidavam os olhos mais castos a mirá-las. Os olhos aceitavam o convite e agradeciam. Era uma bela visão.
A cerimônia demorou muito, os discursos longos com linguagem rebuscada, despertavam em alguns, admiração; em outros, tédio. Dava para distinguir claramente os dois sentimentos no rosto e na atitude das pessoas.
Alguns olhavam insistentemente para o relógio, como que querendo mover os ponteiros com a força do pensamento; outros, menos polidos, bocejavam sem sequer disfarçar.
Horas depois, finalmente encerrou a cerimônia. As pessoas se apertavam para cumprimentar falsamente os homenageados que sequer conheciam, outros tiravam fotos com sorriso forçado.
Embora estivesse rodeado por pessoas do meu convívio, senti-me deslocado e triste com a frieza daquele lugar. Não pelo prédio de chão de granito e esquadria de alumínio anodizado, mas principalmente com a frieza das pessoas que ali estavam.
Tudo parecia artificial: o excesso de maquiagem, as roupas alugadas, a linguagem empolada, as joias emprestadas... Menos as loiras, que deram um toque de humanidade àquele lugar.
Inspiração
Uma cerimônia que fui de posse do meu irmão no judiciário. Resolvi escrever o que vi.
Sobre a obra
Fui na posse do meu irmão como juiz, e tinha muita gente e eu fiquei no corredor. Comecei observar tudo em volta, e mais tarde me veio a inspiração para escrever.
Sobre o autor
A arte está no meu DNA, toco instrumentos musicais, desenho, já me aventurei pela escultura e pintura, e amo escrever.
Autor(a): EDIO WILSON DE SOUZA SANTOS (Pena D'ouro)
APCEF/ES