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FUNCIONÁRIO PÚBLICO
FUNCIONÁRIO PÚBLICO
São 8 horas quando Jorge acorda. Acorda cansado; escova os dentes com pressa, o espelho reflete seu rosto estressado. Arruma-se rapidamente, toma de pé uma xícara de café com leite, mastiga apressado um cream cracker, e sai.
Dirige atento e apressado, tenta uma ultrapassagem impossível, volta para a faixa, buzina, gesticula, fala sozinho... O sinal fecha, o carro para e seu pensamento voa.
Chega enfim no seu trabalho, mal cumprimenta os colegas, vai para seu setor e inicia a entediante rotina, se acomoda desajeitado na cadeira, reclama da mobília e da escoliose; repete como um robô cada tarefa, sua mente viaja enquanto carimba e arquiva documentos. Os colegas ao lado conversam animados enquanto trabalham. Ele não dá um sorriso, isola-se como um eremita.
A temperatura está boa, porém ele reclama como se estivesse na andropausa, se abana esbaforido com um leque feito com um relatório. Limpa as grossas lentes e protesta pela baixa luminosidade da sala bem iluminada.
O telefone toca e ele já reclama antes mesmo de atender. Atende demonstrando irritação pelo incômodo. Responde secamente as indagações do cliente do outro lado da linha, e ao desligar põe o aparelho com força no gancho.
Um colega se aproxima, e Jorge logo imagina que este lhe pedirá algum favor. Recebe-o com expressão gélida. Não era o que ele imaginava; mesmo assim não muda a expressão facial.
Trabalha o dia inteiro emburrado, olhando para o relógio constantemente torcendo para os ponteiros girarem mais rápido e o expediente acabar. O relógio não obedece, e o dia parece ainda mais longo.
À tardinha, abre a pasta para pegar a agenda. É dia de pagamento, Jorge faz as contas, confere canhoto do cheque, separa os boletos e carnês, blasfema, reclama do salário, do chefe, da empresa, do Presidente, do país...
Sente-se mal, começa a suar frio e sentir dores abdominais. Entra correndo no banheiro. Ninguém nota sua ausência (nem sua presença), até ser encontrado caído no chão: infartou aos 35 anos.
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Inspiração
Olhar em volta, e ver muitos bancários estressados.
Sobre a obra
Relatei o que acho que é a vida de muitos funcionários públicos que lutam para manter o conforto da família, dar boa educação aos filhos, e acabam se estressando para dar conta disso além das pressões no trabalho.
Sobre o autor
A arte está no meu DNA, toco instrumentos musicais, desenho, já me aventurei pela escultura e pintura, e amo escrever.
Autor(a): EDIO WILSON DE SOUZA SANTOS (Pena D'ouro)
APCEF/ES
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