Talentos

UMA FADA NO MEU JARDIM

Tia Abigail chegou de surpresa para visitar a família. Molhada pela chuva que caía naquela manhã de domingo, entrou, sujando o tapete novo que acabara de ser inaugurado. Sua irmã se apressou em trazer-lhe uma toalha, enquanto olhava, apreensiva, seu tapete, sem nada dizer para não magoar a recém-chegada – que, reclamando da chuva, abriu uma sacola e dela tirou uma caixa grande, dizendo:
– Ainda bem que não molhou.
Tia Abigail chamou:
– Júlia, venha aqui. Não vou te dar um abraço porque estou molhada, mas trouxe um presente.
– Presente para mim? – perguntou Júlia, animada.
– Sim, tomara que você goste. Só tenha cuidado para não quebrar.
Tia Abigail afastou-se para se enxugar, enquanto Júlia corria, com a ajuda do pai, para tirar o presente de dentro da caixa. Ao ver do que se tratava, a menina exclamou:
– Que lindo!
Seu pai concluiu:
– É um belo terrário.
Fascinada, Júlia ficou horas e horas admirando aquele minúsculo jardim. Ela percebeu que, além das plantas de variadas cores e espécies, dentro do terrário havia uma casinha e, ao lado da casinha, um balanço; na frente, uma bonequinha de louça sentada ao lado de um pequeno lago. Curiosa, Júlia perguntou à tia quem era aquela bonequinha estava ali no jardim, esperando que a resposta fosse que era ela - a Julia. Mas, contrariando as expectativas da menina, tia Abigail respondeu que não era boneca, mas sim uma fadinha.
– Fadinha? E o que são as fadinhas?
Tia Abigail explicou que as fadas eram seres delicados, que gostavam das florestas verdes e dos ambientes cheios de plantas e flores. Júlia perguntou se elas existiam de verdade e sua tia respondeu que sim:
– Elas são seres que habitam a natureza. Adoram cuidar da natureza, dos jardins.
– E como é que as fadinhas cuidam da natureza? E dos jardins? – perguntou Júlia.
– Ah, as fadinhas vivem limpando, organizando, todos os ecossistemas do planeta. Elas saem voando por toda a Terra, jogando sementes para que nosso mundo seja mais bonito, com grandes florestas, lindas flores, rios e mares limpos, céu limpinho e bem azul para que possamos ver o branco das nuvens. Um majestoso jardim! – respondeu a tia.
Entusiasmada com a história, Júlia perguntou se as fadas viriam àquele seu jardim. Tia Abigail respondeu que, possivelmente, sim.
Então, Júlia pegou seu presente e o colocou próximo à janela do seu quarto. Passou a cuidar bem dele para, dessa forma, conseguir ver as fadinhas de verdade chegarem.
Passaram-se os dias. Numa linda noite, a lua cheia estava muito grande, bem maior que de costume, e sua iluminação tinha um tom avermelhado. Júlia ainda esperava com ansiedade ver uma fadinha; porém, naquele dia, ela estava tão exausta de brincar que dormiu mais cedo e não viu a Fadinha Azul chegando ao terrário.
A fadinha gostou daquele jardim maravilhoso e percorreu cada canto. Embalou-se no balanço e plantou mais flores, brincou, brincou... Tanto que adormeceu e se esqueceu de ir embora.
Ao amanhecer, um gato que estava rondando a casa viu a fadinha dormindo e, pensando ser um pássaro, correu para pegá-la. Ao pular em cima da mesa onde estava o terrário, o animal derrubou alguns vasos, fazendo barulho. Nesse momento, Júlia acordou e foi olhar o que estava acontecendo. Viu o gato tentando pegar alguma coisa dentro do terrário. Na luta, ele estava empurrando o vaso e quase o derrubou no chão, não fosse a rapidez de Júlia, que conseguiu segurá-lo a tempo de não deixá-lo cair. Ao arrumá-lo na mesa, a menina teve uma enorme surpresa: a princípio, assustou-se com o que viu dentro do terrário. Paralisada, observou uma fadinha que se encolhia, apavorada, dentro do terrário. Parecia também estar assustada com aquela menina enorme a olhar para ela.
Sem acreditar, Júlia aproximou-se e a fadinha encolheu-se mais ainda e, se arrastando, entrou na casinha, assustada. Júlia sorriu e a fadinha foi se acalmando com o sorriso belo e o olhar encantador daquela garotinha. Recuperada do susto, a fadinha preparou-se para voar e, vendo que ela iria embora, Júlia pediu:
– Ei, espere, não vá embora! Não tenha medo de mim. Não vou te fazer nenhum mal. Você é uma fada, não é? Eu estava te esperando há muito tempo. Por que demorou tanto?
– Sim, sou uma fadinha. Demorei porque estava cuidando dos jardins, pelo mundo. Vi esse aqui, tão admirável e tão bem cuidado, mas precisando de flores coloridas, então vim para semear novas flores. Porém, estava tão cansada que adormeci.
– Então você gostou do meu jardim? – perguntou Júlia.
– Sim, gostei muito! – respondeu a fadinha.
– Como é seu nome?
– Meu nome é Laura, mas me chamam de Fada Azul.
– Por que Fada Azul?
– Ah, me chamam assim por causa da cor das minhas asas.
– Ah, bom! E onde fica sua casa?
– Nós, fadinhas, temos casas em vários lugares: florestas, bosques, jardins, hortas, ruas, praças; onde há plantas verdes e água.
– Se vocês moram nesses lugares, por que a gente não vê?
– Porque nós somos especiais e podemos ficar invisíveis. Somente as pessoas de coração bom podem nos ver, assim como você está me vendo agora.
– Você tem irmãs?
– Sim, muitas, muitas, espalhadas pelo planeta!
– E o que elas fazem? Semeiam também?
– Elas têm tarefas diferentes, por exemplo: organizam o sistema terrestre garantindo o funcionamento de todos os elementos existentes no planeta Terra. Você não vê como fica harmonioso: as cachoeiras, as matas em volta, o cheiro das matas, as flores, os frutos? Tudo é trabalho das fadas.
– Como elas fazem isso?
– Com suas varinhas mágicas, elas vão organizando tudo para ficar bem bonito.
– Você já viu alguma bruxa na floresta?
– Sim, todos os dias.
– E não tem medo delas?
– Não, o poder delas é do mal, mas o nosso é do bem. Então, somos mais fortes que elas.
– Que maldade as bruxas fazem para deixar vocês furiosas?
– Elas gostam de sujar o planeta. Elas poluem o ar, sujam os rios, perseguem os animais. Então, as fadas chegam e elas fogem. Aí, as fadas reconstroem todo o ambiente destruído por elas.
– Então é por isso que sempre estão nascendo plantinhas em todo lugar?
– Sim.
– Mas não é muito trabalho para vocês?
– Sim, muito! Por isso, vivemos plantando. As flores têm uma função muito importante. Além de deixar o planeta mais perfumado e colorido, elas liberam o oxigênio limpinho para os seres vivos respirarem. Sem oxigênio, não haveria vida na Terra, por isso é que as flores e as florestas são indispensáveis à vida.
– Você também tem uma varinha mágica?
– Sim, aqui está. Ela é muito poderosa, e por isso as bruxas têm muito medo.
– Eu posso ser uma fada igual a você?
– Ah! Você pode ser uma fada humana, sim, e mais: pode nos ajudar nesse tão importante trabalho. Sabe como? Ensinando às pessoas a cuidar mais do planeta, das florestas, dos rios, do mar, orientando para que não destruam e nem joguem lixo no meio ambiente, não queimem as florestas, para não matar as árvores e nem os seres que vivem nela, e nem joguem fumaça no céu.
– Mas eu não tenho varinha mágica... – suspirou Júlia.
– Tem, sim, a sua varinha mágica está no seu coração. Quando quiser usá-la, confie no seu coração. Mantenha-o firme, com coragem e generosidade, e ele será tão poderoso quanto uma varinha mágica. Além disso, ele expulsará seus medos para bem longe, e assim você será uma fada humana poderosa e muito corajosa.
– Obrigada, fadinha Laura. Gostei muito de conhecer você.
– Eu também gostei muito de você, mas preciso ir embora. Tenho muito trabalho, a primavera está chegando e tenho de semear flores neste planeta.
– Você pode vir todos os dias visitar e semear o meu jardim! – pediu Júlia.
– Não posso vir todos os dias, meu trabalho é pelo globo terrestre, junto com as outras fadinhas. Quando puder, eu volto para te visitar. Mas lembre-se: sempre que novas e belas flores estiverem nascendo, uma fadinha passou por ali.
E, despedindo-se de Júlia, a fadinha voou para outros jardins.
Muito feliz, Júlia saiu gritando:
– Mamãe, mamãe, eu vi uma fada no jardim!
A mãe ficou feliz pela felicidade da filha e perguntou:
– Onde? Vamos ver?
Quando chegaram ao local, o terrário estava mais bonito do que antes, com lindas flores coloridas e perfumadas.
– Olha, mãe, foi ela quem fez isso! Sabe o que ela falou? Que as flores limpam o ar que nós respiramos e que eu posso ser uma fada humana ajudando a cuidar das plantas.
– Sim, filha, é verdade. As plantas, todas elas, sejam: florestas, jardins e até as mais pequenininhas, como os capins, limpam o ar que respiramos. Então todos nós podemos nos transformar em fadas, cuidar bem das plantas, dos nossos jardim, para que as fadinhas mágicas possam sempre voltar.


Compartilhe essa obra

Share Share Share Share Share
Inspiração

Toda criança possui uma imaginação muito fértil e é capaz de,em simples momentos do dia a dia, transitar entre o mundo real e o imaginário, em que a imaginação dá espaço para as mais diversas formas de conhecimento de mundo. Foi pensando nisso que escrevi este conto, a partir da percepção da conexão da criança com a natureza e com tudo que a cerca.

Sobre a obra

O conto “Uma Fada no meu Jardim” faz uma conexão entre o mundo real e o mundo infantil. A obra conta a história de uma menina que ganhou um lindo terrário da sua tia e através desse presente ela tem a oportunidade de conhecer sobre o mundo mágico das fadas e sobre a importância de se preservar a natureza.

Sobre o autor

Sou aposentada da Caixa, tenho 60 anos, e meu maior hobby sempre foi escrever. Desde pequena, sempre trazia comigo um caderno de bolso para anotar detalhes quando batia a inspiração. Após a aposentadoria, coloquei em prática meu lado escritora e participei de alguns concursos, dentre eles o Talentos Fenae, que ressignificou minha vida.

Autor(a): VERONICA DA SILVA GALVAO (Veronica Galvão)

APCEF/AL