No lixão

No lixão

Trabalhei na agencia Bicas de janeiro de 2007 a janeiro de 2010. Ali pude confirmar que a gente aprende também e todos os dias ouvindo as experiências dos outros.
Quando trabalhei em Nova Era, de 2003 a 2005. O Tufic contava sempre um caso que me serviu de luz e direção e é bem parecido com o que passo a narrar agora e que ocorreu provavelmente no primeiro semestre de 2007.
Certa tarde, numa quarta-feira quando voltávamos de uma visita a um cliente, eu e o João Kingma que era o gerente de retaguarda da agência, onde trabalhavam ele, o Rodrigo, que era o tesoureiro, uma estagiária e dois ou três prestadores de serviço, que tinham registro como cooperados, numa aberração esdrúxula e imoral que a Caixa adotou em determinado período, pois explorava esses trabalhadores e enfraquecia a nossa categoria de bancários.
Estacionamos o carro perto da estação ferroviária de Bicas e caminhávamos para a agência quando fomos abordados por uma senhora proprietária de uma loja de roupas femininas que dirigindo ao João disse:
___João, a Meire (que era a gerente da agência) me disse que você é que vai dar uma solução para o meu problema. Você já resolveu. Eu deixei lá com ela o comprovante do deposito.
O João respondeu:
___. Ela me passou o caso ontem à tarde e eu pedi a ela que lhe solicitasse o comprovante do deposito do envelope, eu ainda não olhei tudo, mas até amanhã à tarde eu te dou uma solução.
Continuamos caminhando para a agência e o João me narrou que a cliente tinha efetuado um depósito em cheques por meio de um envelope na segunda e o envelope ainda não havia sido processado.
Chegamos na agencia e nos dirigimos diretamente para a retaguarda e fomos informados que ainda não havia sido localizado o envelope. Fiquei por ali auxiliando na procura pois os colegas já estavam envolvidos no processamento do movimento do dia.
Esgotadas as possibilidades de localizarmos o envelope ali, perguntei para a Luiza, que trabalhava na faxina, se o lixo ainda estava na agência, e ela me informou que havia colocado para fora da agência a mais ou menos duas horas e que o lixeiro já havia até recolhido. Alguém ainda argumentou que haviam verificado o lixo e que não estaria lá.
Perguntei então onde ficava o lixão da cidade e o menor aprendiz que estava de saída pois era o fim do seu horário me disse que ficava na estrada para Juiz de Fora, entrando em São Manoel, que se eu quisesse iria até comigo
Fomos então até o lixão e o encarregado do local nos mostrou onde o caminhão havia despejado o lixo. Ainda tentei localizar alguma coisa, mas logo vi que não seria possível sem remexer e que para isso iria precisar de enxada e luvas.
Conversei então com o encarregado e lhe disse que havia sido perdido um documento que poderia estar num dos sacos e que eu iria retornar no dia seguinte com mais pessoas para revirarmos o lixo e tentarmos encontrar e lhe pedi que se o caminhão voltasse para descarregar que ele pedisse para que descarregasse um pouco mais afastado o local e ele informou que o caminhão só deveria retornar na tarde do dia seguinte.
Retornando à agencia pedia a Luiza que verificasse a possibilidade de arranjar um ou dois homens que pudessem me acompanhar até o lixão no outro dia para localizarmos os sacos e verificarmos um a um.
Reunimos então, eu, o João e a Meire e decidimos que iriamos recompor a conta da cliente no dia seguinte, ainda que não encontrássemos o envelope iriamos efetuar o acerto e solicitar-lhe se poderia fazer contato com os emitentes dos cheques para lhes solicitar a reposição, após comprovada a não compensação dos mesmos. Embora isso fosse muito constrangedor e desgastante, além da grande possibilidade de prejuízo para a agência. Porem insisti que tudo só seria feito no final do expediente do dia seguinte após esgotada a última possibilidade.
Chegando na agencia cedo no outro dia a Luiza me disse que o irmão dela estava desempregado e tinha ido chamar um amigo dele e que eles iriam até o lixão comigo.
Providenciamos então enxadas e luvas e fomos até lá.
No lixão o encarregado me disse que ninguém tinha ainda mexido e nem despejado mais nada ali e que se eu não tivesse conseguido os homens para procurar ele até me ajudaria, pois estava bem tranquilo ali naquela hora.
Fomos então até o local e mostrei aos dois companheiros que seria necessário revirar com calma e cuidado o lixo e que eram uns sacos pretos e grande que usávamos na agencia e que então todos os sacos com aquele aspecto deveriam ser separados elevados para a parte de fora dos montes para verificarmos.
Encontramos uns dez ou doze sacos e quando abri o terceiro ou quarto deles, verifiquei que era o conteúdo que me interessava, pois tratava-se de papéis da retaguarda, então fui verificando com muita atenção até que no meio localizei um envelope intacto e quando abri ali estava o depósito e os cheques.
Retornamos então à agencia ainda incrédulos de que tínhamos conseguido.
Nessa mesma agencia de Bicas uns meses depois cheguei para trabalhar e todo o pessoal da retaguarda, que normalmente iniciava os trabalhos após o meio dia já estava presente. Então eu brinquei:
___. Deu alguma zebra ai ontem e vocês dormiram por aqui.
Uma prestadora respondeu:
__. Nem brinca, o meu caixa ontem fechou com uma falta de R$1.000,00 (mil reais). E isso não tem nenhuma graça e nós estamos aqui refazendo tudo para tentar achar.
Eu, agachando para pegar a lixeira que estava debaixo da mesa dela disse:
___. Já procuraram no lixo.
E quando virei a lixeira de cabeça para baixo caiu no chão um maço de 10 pacotes de R$100,00(cem reais) composto de notas R$10,00 (dez reais).

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Inspiração

Essa cronica é parte das história de meus 34 anos de serviço na Caixa

Sobre a obra

Um dos muitos momentos vividos na Ag Bicas

Sobre o autor

Entrei na Caixa em 1984, aposentei em 2018 e venho escrevendo as história que vi e vivi nas agências onde trabalhei.

Autor(a): MARCOS VINICIOS DE MELO (Marcos Melo)

APCEF/MG