O bem-te-vi

Bem te vi,
Ó Alcântara,
das copas das tuas árvores,
tristes lembranças,
das caravelas a chegar,
inundando tuas terras cheias de ocas,
um cheiro de pólvora e homens de barba,
eu assoviei:
bem-te-vi.

Bem te vi,
Ó Alcântara,
quando em teu mar entraram nesta terra,
negros, crioulos e brancos…
A vila Tapuitapera cresceu,
e de cima dos teus muros,
aos gritos dos açoites e ranger de dentes,
um sibilo:
bem-te-vi.

Bem te vi,
Ó Alcântara,
quando surge da brancura do algodão,
os frutos da terra e do comércio,
veio a fama, a riqueza e a opulência,
que atravessaram o continente,
nas revoluções além-mar,
e do alto do céu, um silvo:
bem-te-vi.

Bem te vi,
Ó Alcântara,
quando os filhos da terra,
barões, baronesas, fidalgos,
a caminhar na procissão do Divino,
entoavam cânticos e ladainhas,
a celebrar a promessa da Rainha,
repliquei um coió:
bem-te-vi.

Bem te vi,
Ó Alcântara,
quando veio a República,
a escravidão cessou,
e o Imperador deposto,
e teus filhos e filhas se dividiram,
a cidade ficou vazia,
cheio de melancolia,
e um pio veio:
bem-te-vi.

Bem te vi,
Ó Alcântara,
das tantas suntuosas lembranças,
das festas do sagrado e do profano
memórias de luxo,
das quermesses e casamentos,
dos concertos e declamações,
soava sempre um atito redobrado:
bem-te-vi.

Bem te vi,
Ó Alcântara,
quando a modernidade chegou,
e foguetes no teu céu decolaram,
junto às violações dos Direitos Humanos,
resistência e a luta dos quilombos,
muita hipocrisia e dinheiro pelo ar,
um som de protesto ecoou:
bem-te-vi.

Compartilhe essa obra

Inspiração


Alcântara encanta com sua história e importância para o Maranhão e o Brasil. E o bem-te-vi, Pitangus sulphuratus, a bela ave que inspira a poesia, é vista em contraste com o termo bem te vi, para dizer "eu te vi bem!"
Essa dualidade conecta o espectador a momentos historiográficos que permeiam a origem e os ciclos de vida de Tapuitapera.

Sobre a obra

A poesia "bem-te-vi" é uma inspiração de base historiográfica, cujo "eu" poético é inspirado É uma ave, capaz de transmitir acontecimentos, fatos, lamentações, inquietações. Sempre com um silvo de protesto, de atenção, de júbilo, enfim, o bem-te-vi é uma testemunha figurada da glória e esplendor de Alcântara. É belo é ter ver em versos e estrofes.

Sobre o autor


Participo do Talentos Fenae desde 2018. A mente inquieta, cheia de divagações, dúvidas, perguntas, a contemplar o ser poético, o belo, as letras espelhadas, o papel e uma caneta. O poeta é introspectivo a fatos, lugares, acontecimentos, em sua lucidez e loucura, flui como rio caudaloso, a navegar em um mar de vidas, emoções, desejos e inquietações

Autor(a): PEDRO JADER BANDEIRA SOUZA (Pedro Souza)

APCEF/MA


Essa obra já recebeu votos de 7 pessoas

Essa obra já recebeu 31 votos (com peso)