Terra do Fogo

O Rio não está Branco,
sequer está rio
Pra onde foram suas águas?
As de março, as de abril…

Que cortina é essa
Cobrindo o céu? Densa,
Intensa. Doença
Com cheiro e cor de sentença.

No horizonte uma sombra,
Uma lembrança do passado
Bem recente
Jaz em chamas no lavrado.

Com cinquenta tons de cinzas
Tinge o ar e os pulmões
E se espalha feito caos
sufocando as orações

Que imploram por chuva,
Por socorro, por alento
Com lágrimas minguadas
pela seca, em lamento.

Afinal, falta água,
flora, fauna; falta ar
Mais ainda, consciência!
Está. Difícil. Respirar…

Como pensam em gastar
o último fôlego, em uníssono?
Buscar ajuda ou culpados,
Em que reside o compromisso?

Enquanto se digladiam
O megafogo se alastra
Tal como as mentiras
Que pairam sobre a fumaça.

Mas existe uma fagulha
Em meio às cinzas e o nada:
Esperança, primeira e última -
Que não fora apagada.

Venham, águas de março
e de abril e de maio.
Que desabe do céu opaco
Um torrencial calendário!

Até lá, seguimos. Resistimos.
Está. Difícil. Respirar…

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Inspiração

As grandes queimadas durante a seca em Roraima, início de 2024.
Costumo fazer “poesia do caos”, como forma de enfrentá-lo.

Sobre a obra

Sem métrica, deixando o pulso e o impulso conduzirem.
Algumas rimas e aliterações, além de certa musicalidade.

Sobre o autor

Rabisco e cantarolo bobeiras.

Autor(a): LEOCADIA SOARES DE OLIVEIRA (Leocádia)

APCEF/RR


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