Fotografias
“A melhor coisa sobre uma fotografia, é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam”. (Andy Warhol)
Em toda casa de mãe ou de avó, ou pelo menos grande parte delas, no fundo do armário da sala, ou no maleiro do guarda-roupas, entre poeira e lembranças, repousam álbuns ou monóculos com fotos de uma família que um dia foi unida pelo tempo e pelos laços sanguíneos. Cada página conta histórias congeladas em sorrisos e abraços, testemunhas silenciosas de dias que, agora, parecem pertencer a um passado distante.
As fotografias narram capítulos de alegrias compartilhadas, as vezes de momentos de confraternizações e reuniões em que a família e amigos se juntavam, às vezes fotos individuais, até mesmo as horrendas fotos de documentos 3x4, que com o passar dos anos elas ficam mais simpáticas do que as versões mais recentes. Às vezes as fotos estão em álbuns grandes ou pequenos de capas duras, porém simples, as vezes em capas luxuosas aveludadas e com caixas personalizadas, as vezes em álbuns de capas finas com belas paisagens, pequenos e simples, que eram entregues gratuitamente juntos com as fotos pela empresa que revelava os negativos dos filmes e outras vezes em monóculos.
Algumas famílias incomuns guardam lembranças e fotografias de eventos tristes, talvez para sempre revisitar e lembrar que a vida é composta de momentos alegres e tristes, ou talvez por outra razão pessoal, fixam nas páginas dos álbuns esses momentos também, como é o caso do álbum da minha mãe, cujas páginas colecionam fotos de entes queridos em momentos felizes, vivos, e outras fotos desses mesmos entes no momento em que já estavam falecidos, até mesmo sendo velados em caixões convencionais, momentos de profunda dor dividem os espaços do álbum com os momentos festivos, o início e o fim da vida são retratados ali, nascimentos, aniversários, casamentos, batizados e funerais.
Na coleção das memórias visuais, a vida é contada através das imagens, silenciosamente, as vezes em ordem cronológica, as vezes coleções aleatórias ao fator temporal, porém as fotos trazem, acima de tudo, as marcas do tempo e das mudanças. Os personagens da história retratada nos álbuns, antes entrelaçados, seguiram diferentes caminhos, desenhando linhas que se afastaram ao longo dos anos. O que antes era um lar ou uma fraternidade agora é apenas a sombra de uma união que se desfez. Nas esquinas da vida, alguns ainda se encontram, trocam olhares carregados de memórias, mas o silêncio fala mais alto do que as palavras não ditas. Outros, perdidos em trilhas desconhecidas, nunca mais se cruzam, outros se foram precocemente e outros já findaram seu labor por aqui e descansaram.
A vida, implacável, separa o que um dia pareceu inseparável. As imagens se tornam portais para um tempo onde o riso ecoava mais forte que as despedidas. O álbum, agora, é um relicário de saudades, um eco silencioso de histórias que se dispersaram com o vento implacável da vida. No entanto, mesmo na separação, há uma beleza melancólica nesse relicário de lembranças, onde cada página amarelada e desgastada é um testemunho de que, por um breve instante, essas vidas estiveram entrelaçadas, criando uma conexão única e irrepetível. E, mesmo que os caminhos divergentes tenham se tornado o destino, o álbum permanece como um elo entre passados que foram, mas nunca serão esquecidos.