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Premissa 1 – Você não estabelece limites ou centraliza tudo
No meu vasto conhecimento em como ser um trouxa da maior estirpe, pensei nesta maravilhosa terra, onde finalmente todos os trouxas viveriam em harmonia.
Claro, a vida não é um morango, a minha TrouxaLand idealizada teve alguns problemas, para isso, terei que lhe apresentar ao prefeito desta cidade: Seu Troxulio.
Lembrando, porém, que todas os personagens são meramente ilustrativos e não condizem com a realidade.
Bem, o senhor Trouxilio, viveu, durante a sua infância, sendo feito de trouxa. Ele não parava em escolas, não criava vínculos com pessoas, também não conseguia conversar direito com os outros, namorar então, caso ele fosse Bi, levaria fora de ambos os gêneros.
Já na adolescência, pensou que havia aprendido a não ser tão isolado e feito de trouxa, porém, não apenas as pessoas, como o próprio sistema o faziam de trouxa.
Difícil olhar para os lados e não perceber uma pessoa que não o tenha feito.
Logo, ficou claro que só havia uma alternativa: Ir para outro local.
Ele via que outras pessoas também eram feitas de trouxa, pessoas que, pareciam ter sofrido junto com ele, e, poderiam ser sim, iguais a ele.
Criou-se então a TrouxaLand (a terra onde todos os Trouxas eram bem-vindos).
Porém a cidade não tinha portões. As casas não tinham muros. As portas não tinham trancas.
Por qual motivo os inteligentes entrariam nas terras dos trouxas? Os esquecidos, enganados, os passados para trás de alguma forma. Todos aqueles que pareciam não serem importantes, tinham o seu grau de importância na TrouxaLand.
Engraçado, poderíamos pensar que o “Mundo Normal” acharia maravilhoso este local, mas não era a verdade. É fácil afirmar que quem ama fazer as pessoas de trouxa, ama ter um trouxa por perto.
De início todos chegavam, colocavam suas malas na praça da cidade e se apresentavam. Só um trouxa se sente bem contando as tristezas para outros. Rir de um trouxa, sendo um trouxa, não é maldade, não é escárnio, é, talvez, uma grande empatia.
Porém, do mesmo modo que para o mundo lá fora, dentro da cidade não tinham limites. Todos chegavam, contavam suas histórias, riam junto, comiam e iam para as suas casas.
Trouxas, que antes eram minoria esquecida, criaram uma maravilhosa cidade, sob a coordenação do Seu Trouxulio, que decidiu virar prefeito da cidade.
Ocorre que, de uma hora para outra, várias outras pessoas chegavam na TrouxaLand, num fluxo que não estava previsto, pois, praticamente, todos os trouxas conhecidos por ele já estavam na cidade.
Sem pedir a opinião dos outros, pois ele não queria se aproveitar daqueles cidadãos, ocorreu a primeira decisão do, agora prefeito, Trouxulio: Implantar e fechar os portões da cidade, para que um controle de entrada ocorresse.
Acontece, que o prefeito também não queria onerar os demais trouxas, ele mesmo abria e fechava os portões todos os dias, registrando todos os pedidos de entrada.
Ocorre que, depois das entradas, no lugar de entrar apenas os trouxas, entraram também os que faziam os outros de trouxas. Não apenas entrando na cidade como morando na casa dos antigos “explorados”.
Isso fez com que o Trouxilio tivesse que entrevistar todos os moradores antigos para saber os nomes das outras pessoas que também a teriam feito de trouxas, já que não poderia expulsar aqueles que entraram.
Percebeu aí uma coisa estranha: Apesar de “esnobados”, os exploradores dependem dos explorados. Não é simplesmente saindo do ambiente que eles estariam livres de serem feitos de trouxa novamente.
O prefeito não se sentiu bem com aquilo, decidindo, além de um rígido controle dos portões, pela construção de muros nas casas de todos os trouxas.
As apresentações, antes feitas na praça, seriam feitas pela rádio da cidade que ele mesmo tomava conta. Havia uma lista de moradores que chegavam e tinham que esperar o prefeito sair dos portões para poder se apresentar.
Mesmo com todo o controle, as histórias da rádio saíram do “Como eu fui feito de trouxa” para o “Como eu fiz outros de trouxa”.
Não adiantava o prefeito controlar quem chegasse, cortar os microfones das histórias de escárnio, nem trancar todos os muros. Parecia que ele não conseguiria resolver aquilo.
Mesmo se sentindo esgotado, ele queria manter-se forte, pois, se ele criou aquela cidade, pensava que apenas ele poderia resolver aquele problema.
Os moradores daquela cidade estavam, cada vez mais, presos com aqueles que a faziam de trouxa. O dito “Mundo Normal” estava cada vez menor.
Já não havia mais movimento na praça da cidade, então o prefeito passou a pedir para todos gravarem as fitas K7, para que ele passasse na rádio, porém já começava a sentir dores no peito e no joelho.
Ao reclamar das dores para uma das primeiras moradoras da cidade, ela ofereceu ajuda. Ele, porém, olhou para a sua casa cheia de muros altos, cercas e pensou que não seria bom atribuir uma tarefa que era apenas dele.
Do outro lado, choviam demandas dos novos moradores por melhorias na cidade, pois, aparentemente, o prefeito vivia ausente.
Aos poucos, não conseguia mais limpar a praça principal. Os portões ficaram fechados de vez. Ninguém mais conseguia dormir, pois as buzinas, de quem queria morar naquela cidade cheia de trouxas, não paravam (e sabemos que buzina não é coisa de trouxa, no bom sentido da palavra).
Sentindo que havia fracassado na sua missão, ele relembrou dos dias que apenas queria viver bem, junto aos seus pares, os trouxas.
Só que não bastaria a ideia maravilhosa de apenas criar o mundo ideal e deixar apenas para ele fazer tudo.
Pensou que de início, já poderia ter colocado alguns limites para a entrada de certas pessoas, poderia ter feito um banco de quem tinha feito os outros de trouxa, um sistema básico de aprovação de entrada e horários.
Poderia ter escolhido uma voz melhor que a dele para a rádio da cidade, poderia, até mesmo, no lugar de não colocar muros nas casas, colocar muros baixos, onde todos poderiam ver todos, mas cada um soubesse até onde poderiam ir sem pedir permissão ou não.
Enfim, agora ele tem uma cidade centralizada no poder dele, poder fraco, já que ele cai na cidade e deixa todo mundo preso no seu devaneio.
Vida longa ao Seu Trouxulio.
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Inspiração
Momento de tensão, traumas, ansiedade e quase burnout.
Sobre a obra
A ideia do texto que foi adaptado de um livro meu - Como Deixar de Ser Trouxa, é trazer uma reflexão para as pessoas que pensam que, mesmo com as melhores intenções, apenas elas podem fazer tudo, podem cuidar de todo mundo e podem controlar tudo.
Difícil ser tão bom sozinho e fazer tudo perfeito.
Sobre o autor
Escritor por insistência, autor de 7 livros.
Autor(a): THULIO PHELIPE ANDRADE DO NASCIMENTO (Thulio Souza)
APCEF/PB
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