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OS FEIOS
Custei a aceitar, mas finalmente aos 18 anos de idade, percebi o quanto eu era feio.
E de nada adiantava eu usar roupas bonitas ou me banhar com os perfumes franceses da minha mãe, os quais ela escondia a sete chaves em sua penteadeira, pois a feiura permanecia a mesma. Nenhuma garota queria saber de mim.
Eu até tentava fazer piadinhas e brincadeiras para chamar a atenção, mas não dava resultado. Pelo contrário, as afastava ainda mais pois, além de feio, também me achavam antipático.
Minha situação piorou quando apareceu um japonês todo musculoso no meu bairro, metido a galã de novela. Ele desfilava pelas ruas com seu “olhar 43” e, com isso, as meninas se “derretiam” por ele.
Não havia como competir com aquele “japrega”, visto que minha feiura era gritante.
As meninas faziam fila para paquerá-lo. Eu ficava babando de inveja, vendo ele esnobar ao escolher com qual delas iria ficar à noite. Por vezes eu pensei: “por que eu não nasci japonês?”
Não vendo saída para a minha situação, fui em busca de alternativas para abrandar a minha carência afetiva. Lembrei então que havia uma menina na outra rua que ninguém queria paquera-la pois, tanto quanto eu, era feia que doía.
Lembro de uma frase que minha mãe sempre dizia e que era bem apropriada para aquele momento: “Se não tem tu, vai tu mesmo”. Então deixei de lado todas as minhas preferências relacionadas à beleza feminina e fui atrás da garota feiosa.
Para minha grata surpresa, encontrei na feia uma pessoa extremamente agradável e gentil. Era três anos mais velha que eu e, consequentemente, bem mais madura. Conversávamos sobre assuntos diversos e por vezes cultos. Então, aos poucos, fui percebendo o quanto eu estava gostando da sua companhia. Com o passar do tempo, sem eu quase notar, aquela imagem exterior de menina feia foi desaparecendo e, em seu lugar, emergiu a interior muito mais bela, a qual eu jamais imaginara.
Não deu outra. Na semana seguinte nós já estávamos namorando firme. Enfim, eu pude desfrutar da companhia feminina que eu tanto buscara, agora sem me importar com questões estéticas.
Fiquei sabendo na mesma semana, que seu aniversário estava próximo, e com isso, ganhei uma preocupação. Eu era apenas um estudante, sem emprego ou trabalho algum. E obviamente, sem nenhuma condição de comprar-lhe um presente.
A única solução seria conseguir algum trabalho temporário para ganhar alguma grana, visto que meus pais estavam bastante endividados e não poderiam me ajudar.
Notei que meu vizinho da frente de casa, estava em plena reforma de seu imóvel e fui lá oferecer meus serviços em troca de algum dinheiro. Ele me contratou para ser seu ajudante de pedreiro por uma semana e aceitei de pronto, pois vi que seria o suficiente para comprar o que havia planejado.
E assim, trabalhei duro a semana inteira. Minhas mãos ficaram calejadas de tanto bater massa de cimento e carregar tijolos. Meu rosto ficou tostado de pegar sol o dia inteiro e as costas cheia de dores pela falta de costume com o trabalho pesado. Mas nada se comparava à felicidade de chegar na casa da namorada com um buquê de rosas e um par de sapatos lindos que vi em uma loja grã-fina no shopping.
E cá com meus botões e sendo bastante sincero, eu estava na verdade era com a intenção de que, de repente, após ela receber o presente, permitiria algo a mais do que apenas os “amassos” que havia rolado até aquele momento.
No dia do natalício, planejei fazer uma bela surpresa logo pela manhã, pois naquele horário ela jamais estaria me esperando, visto que a gente só se encontrava à noite.
Cortei o cabelo, vesti minha melhor roupa e saí em busca do novo esconderijo dos perfumes franceses que minha mãe escondera. Lambuzei-me da cabeça aos pés; coloquei a caixa de sapato muito bem embrulhada debaixo dos braços e saí com as rosas em punho em direção à casa da minha linda menina feia.
Eu sabia que os pais dela costumavam sair logo cedo para trabalhar. Então eu poderia entrar pela porta dos fundos, a qual eles deixavam apenas encostada.
Na minha fértil imaginação, eu entraria feito um príncipe acordando-a com um beijo, rosas e meu belo presente. E consequentemente, tudo poderia acontecer...
Cheguei de fininho, pulei o muro e entrei pela porta de trás. O quarto dela ficava no andar superior. Fui subindo silenciosamente para não correr o risco de acordá-la.
E então, para minha infeliz surpresa, dei de cara com a minha feia e o japonês, na cama. Ele estava entregando o seu presente de aniversário, sem se preocupar em derramá-lo nos lençóis...
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Inspiração
Esta é uma história real contada por um mestre de obra que trabalhou em uma reforma na minha casa. Achei muito interessante e estou compartilhando no Talentos FENAE.
Sobre a obra
Usei o tipo Narrador Personagem, pois achei que esta forma é a mais adequada para o tema do conto.
Sobre o autor
Participo da categoria literatura desde a sua primeira edição e tenho procurado aperfeiçoamento contínuo para minha participação no Talentos.
Autor(a): FRANCISCO ALENILSON GIRARD DA SILVA (ALÊ)
APCEF/PA
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