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O MEDROSO
Esta história foi “venérea”, como dizia a minha falecida mãezinha - que Deus a tenha - e ocorreu em meados de 1969, mais precisamente na quinta travessa da Colônia Pedro Teixeira, município de Capanema, estado do Pará.
Ela contava que nesse lugarejo, havia um homem conhecido como Valentão; caboco demais forte, destemido e fanfarrão. Qualquer um que o encarasse até mesmo com simples olhar, já ia recebendo uma bordoada na cara. E podia ter a certeza de que o danado sairia dali contando pra Deus e o mundo a sua mais nova façanha.
Coincidentemente, havia um outro caboco na mesma comunidade que era tão frouxo e medroso, que sua esposa só sabia que ele era homem, porque tinha feito um filho nela. Só de ouvir falar das histórias do Valentão, o indivíduo tremia feito vara verde.
O que a esposa não sabia é que por traz daquela figura de frouxo, havia um homem muito paquerador e encantador de mulheres, que não deixava escapar nenhum “rabo de saia” que passasse na sua frente.
Quis o destino que ele conhecesse no mercado da cidade uma mulher muito bonita, estilo potranca gostosona, por quem ele ficou alucinado para ser sua próxima vítima. Bastou ela dar uma pequena olhadinha, que ele tratou de investir todo o seu arsenal de frases de efeito para fisgar a maravilhosa mulher.
Conversa vai, conversa vem, e o encontro foi marcado lá no meio da plantação de milho, que era o local perfeito que o medroso escolhera para seus encontros amorosos com as amantes, por ser bastante isolado. Ele sempre marcava por volta de treze horas, horário em que toda a vizinhança estaria curtindo a famosa sesta do almoço, em silêncio total.
Quando a potranca chegou, o medroso quase se mija de medo, pois ela vinha empunhando uma espingarda, explicando que aquilo era uma exigência do seu marido, pois ele era um homem de muitos inimigos e tinha medo que alguém tentasse fazer algum mal para ela, por vingança.
Assustado, o medroso teve a infeliz ideia de perguntar quem era o seu marido, bem na hora do ato. E ela, já quase seminua, revelou que era justamente o tal Valentão, enquanto apressava o medroso, que já estava ficando branco de medo:
- Vamos lá homem, faz logo esse serviço! Não demora senão meu marido vem me procurar.
- Calma muié! Tô achando que isso não vai dar certo. Tô tremendo de medo. Aí sabe como é. As coisas não funcionam assim.
- Deixa de frouxura, homem! Tu me assanha toda, pra depois vir com essa conversa! – grita a potranca já chateada.
- Ai meu Deus! – resmunga o medroso - Eu tô ouvindo o som de um cavalo vindo na nossa direção? Será que é ele?
E era mesmo. O Valentão já andava desconfiado das saidinhas da esposa na hora da sesta, havia algum tempo. E desta vez, decidiu sair em sua caça pelas redondezas.
Quando viram o Valentão se aproximando, vestiram as roupas e saíram correndo pelo milharal, enquanto a mulher esbravejava:
- Se ele me pegar junto contigo, vai me matar. Corre homem!!
- Se ele te matar, então vai me matar também. Ai meu Deus!! – lamentava o medroso, já sem fôlego de tanto correr.
- Tive uma ideia! – gritou a mulher - Se ele vai matar nós dois, então pega a espingarda e atira nele primeiro.
- Mas eu nunca atirei numa mosca. Eu morro de medo de arma!
- Cacete!! Fui me meter com o caboco mais medroso do mundo. Pega logo essa arma e atira nele, seu frouxo! – ordenou a mulher, entregando a arma para o amante, e correndo adiante em disparada, pra nem ver o que ia acontecer.
O medroso, vendo o Valentão no seu encalço e já não tendo mais nada a perder, pegou a espingarda e, sem olhar para trás, atirou no Valentão, acertando-o em cheio nas pernas.
E assim, o homem mais medroso da cidade, passou a ser um astro, pois além de ter enfrentado o Valentão sozinho, ainda ficou com o mulherão dele.
Pra sua sorte, é que só a minha mãezinha sabia de toda a verdade e contou somente pra mim.
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Inspiração
MInha falecida mãezinha Maria sempre contava para os filhos as histórias que ocorreram em sua cidade natal. E esta é apenas uma delas que achei muito interessante.
Sobre a obra
Neste conto realista, usei a tecnica de narrador onisciente pelo conhecimento completo da história.
Sobre o autor
Sou muito interessada na arte de escrever e tenho recebido muito incentivo familiar para prosseguir e aprimorar.
Autor(a): MARIA DA CONCEICAO FREITAS GUIMARAES (CONCY)
APCEF/PA