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UM SONHO REALIZADO EM UM MOMENTO INESPERADO
UM SONHO REALIZADO EM UM MOMENTO INESPERADO
Há anos meu pai estava preso a uma cadeira de rodas. A doença de Parkinson e uma cirurgia malsucedida em um joelho tornou a vida dele bem diferente daquela que estávamos acostumados a ver, quando ainda nadava, caminhava todas as manhãs e tinha muita energia e vitalidade. Sempre jogou bola e era um torcedor apaixonado pelo Esporte Clube VITÓRIA e eu tinha o sonho de levá-lo para assistir a um jogo no estádio Barradão, de propriedade do Vitória, dessa forma eu queria retribuir as inúmeras vezes que ele, na minha infância, me levou para vários jogos do time que com ele aprendi a amar. Infelizmente não pude realizar esse sonho.
Ele partiu no dia 02 de maio de 2019, uma quinta-feira. Naquele dia eu e minha esposa saímos de Aracaju para Salvador para vê-lo, porém nosso sentimento durante quatro horas de viagem era que iríamos para uma despedida.
Chegamos na casa dele pela tarde e o encontramos deitado, debilitado e já nem abria os olhos. Respirava com ajuda de um aparelho. A enfermeira que o acompanhava nos disse que ele não estava bem. Junto com minhas irmãs e meu cunhado passamos a tarde ao lado dele. No final da tarde sentamos na mesa da sala para fazermos um lanche do jeito que ele gostava. Com pão, queijo, bolo e outras guloseimas que ele sempre apreciou. Assim que terminamos voltamos para o quarto onde ele estava e após alguns minutos desse retorno, ele, de forma bem serena, parou de respirar. O aparelho passou a emitir um sinal incessante. A enfermeira se aproximou dele e viu que não havia mais sinais vitais. Eu ainda me aproximei dele e toquei na sua mão na esperança de ver alguma reação. Mas era uma ilusão. Naquele momento ele havia nos deixado e com ele foi embora definitivamente o meu desejo de levá-lo ao estádio do time que ele tanto gostava. Pra mim não restava dúvida que ele estava aguardando o nosso retorno. Esperou que os filhos, nora e genro se reunissem, fizessem o lanche com calma e aguardou que voltássemos para o quarto, para então partir.
O velório ocorreu no dia seguinte, uma sexta-feira. No sábado o Vitória jogou no estádio que eu tanto desejei levá-lo. Não iria poder ir com ele, mas não poderia deixar de assistir ao jogo. Para mim era como se, após a sua partida, eu estivesse com ele na arquibancada.
E assim aconteceu. Eu e minha esposa fomos ao jogo. O time disputava a segunda divisão do campeonato brasileiro e estava há 3 meses sem vencer. A emoção daquele jogo era diferente. O pensamento em meu pai era total. O nosso time começou perdendo, no entanto, fez dois gols posteriormente e o jogo terminou com o triunfo do Vitória. Para mim foi um jogo especial.
Possivelmente o velório não foi o momento da nossa despedida. Naquele estádio, naquele jogo, naquele triunfo após três meses, de alguma forma certamente ele estava comigo, despedindo-se efetivamente de mim naquele local e naqueles 90 minutos de uma partida de futebol e realizando o meu sonho que nunca pude realizar enquanto ele estava vivo.
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Inspiração
O amor que meu pai tinha pelo Esporte Clube Vitória e que transferiu para mim, meus filhos e meus netos.....e a vontad de levá-lo ao Estádio Barradão.
Sobre a obra
A saudade de meu pai e um sonho não realizado me fez escrever essa história ocorrida um dia após a sua partida desse mundo.
Sobre o autor
Aposentado da CAIXA desde 2015 tenho como umddos hobbys escrever sobre o cotidiano da minha família.
Autor(a): CARLOS AUGUSTO BOHANA FILHO (BOHANA)
APCEF/SE
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