Politicamente Correto

Politicamente Correto

Outro dia fui comprar pão na padaria do bairro, quando, durante a espera na fila do pagamento, assisti um trecho da entrevista de um ator humorista. Perguntado por um jornalista a razão do seu afastamento da mídia, ele, demonstrando uma certa dificuldade na fala, respondeu que com o advento da nova ordem de comunicação imperante no globo terrestre, tornou-se impraticável redigir novos textos, nessa linha de raciocínio, sem correr o risco de ser processado judicialmente por algum interlocutor que venha sentir-se ofendido com alguma palavra solta no interior da redação.
Na verdade, continuou ele, tudo que a nossa equipe construiu, visou causar a alegria e o riso ao nosso povo tão sofrido, que, apesar de tudo, ainda se depara com o fechamento das comportas, para represar a manifestação da felicidade. Resta-lhe, então, buscar alternativas para eliminar as pressões que lhe são imputadas no cotidiano da vida. Apenas isso, disse ele.
Ao ouvir esse desabafo, fiquei a pensar, com os meus botões, para onde o itinerário da vida está nos levando.
Segundo o filósofo francês Henry Bergson, os processos de produção do cômico devem passar pelo crivo do rigor científico. Esse processo dinâmico sai do casulo e entra de vez no mundo pós-moderno, pegando de calças curtas aqueles e aquelas que não prestaram  atenção a esse movimento.
Penso da seguinte forma:  uma das características do ser humano é a exibição fácil do riso, como um cartão de visita da expressão corporal. Vejo o sorriso como a estampa mais linda de um rosto, e, esse traço, típico da humanidade, apresenta uma diferença significativa, quando comparamos com os demais seres do reino animal.
Não é à toa que comemoramos, brincamos e até relaxamos, carregando um riso escancarado em nossas faces, como se estivéssemos chancelando o prazer da alegria. Somos assim! Felizes por natureza! Moldados para rir, até de nós mesmos.
Por outro lado, fico a pensar como ler,  ouvir ou assistir os clássicos antigos, que tiveram a vanguarda de fazer a cabeça de cada jovem daquela época, sem  submissão às linhas limítrofes da gramática, que impera nos dias de hoje. Penso que é possível construir uma peça literária nos dias de hoje, ainda que, trazendo para dentro do texto, uma pitada da inspiração épica doutrora, de tal forma que possamos driblar, com maestria, as penas da lei a nos espreitar nas esquinas da vida.
A invenção do cinema aconteceu em 1895, pelos irmãos Louis e Auguste Lumiere. Desde então os primeiros filmes começaram a ser exibidos sem som. Eram mudos, mas se mostraram eficientes na construção do riso. Os telespectadores riam, sem a necessidade de ouvir nenhuma palavra dos atores. Apenas com uma trilha musical como pano de fundo. Isso mesmo. Ficavam extasiados diante desses verdadeiros mestres do riso. Todos caíam em gargalhadas, embalados pelas genialidades de Charles Chaplin, Oliven Hardy, Stan Laurel, Ankito, Oscarito, Grande Otelo e tantos outros que desfilavam seus talentos nas telas cinematográficas, nos teatros, nos discos de vinil, etc.
Pode-se observar no cotidiano da vida, que estamos sendo convidados a segurar o precioso riso, expressão maior da manifestação da alegria. No entanto, foi durante a pandemia que o sorriso sofreu o seu maior golpe. Todos nós tivemos que esconder os nossos rostos por trás de uma máscara, para nos prevenir do contágio da Covid 19, e, ao fazermos isso, terminamos por amordaçar o gesto facial mais belo do ser humano: o sorriso.
Voltando a entrevista do ator, mencionado no início do texto, torço que a alegria e a exposição do riso não tenham desertados da sua vida, cuja expressão facial me levou a pensar que aquele ator, no auge de seus oitenta anos, esteja carregando dentro de si, um amargor, proporcionado pelas amarras das agruras, que se lançaram sobre ele, eivando, de forma petulante, sua principal ferramenta para viver a vida: seu incrível dom de fazer os outros rirem.

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Inspiração

Apesar da minha idade, caí na vivência de uma nova realidade.

Sobre a obra

A vogal temática que perpassa por esta obra, nos leva a adaptação de um mundo novo. Foram valores que foram se agregando no dia a dia, nos mostrando novos caminhos e novos estilos de vida.
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Sobre o autor

Após a minha aposentadoria, comecei a escrever sobre o panorama atual. Tudo isso como presente do tempo que estamos a viver.

Autor(a): JOSE BARBOSA SANTIAGO (Barbosa )

APCEF/SE


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