Treinamento nunca mais

Rinaldo sempre foi um homem de grandes ambições. Mineiro de Governador Valadares, ele encontrou em uma cidade, no litoral capixaba, um lugar pacato para construir sua vida profissional, mas o espírito inquieto e competitivo o impedia de se contentar com a rotina calma do setor de habitação da Caixa Federal. Era daqueles que sonhava alto e vivia falando sobre suas aspirações com seus colegas, entre uma tarefa e outra, sempre exaltando o Cruzeiro, seu time do coração.

Um certo dia, o gerente da agência saiu em viagem e, como acontece em escritórios pequenos, onde a rotina é quebrada por qualquer mudança, seus colegas resolveram pregar uma peça em Rinaldo. Elaboraram um documento falso que convocava o gerente ou, em sua ausência, o funcionário do setor de habitação para um treinamento de especialização de 25 dias na Capital. Além da oportunidade profissional, o tal treinamento oferecia hospedagem de luxo e diárias integrais. Era o tipo de coisa que brilhava nos olhos ambiciosos de Rinaldo, que imediatamente se imaginou em um hotel cinco estrelas, frequentando palestras e jantares formais, um passo mais perto de suas aspirações.

Claro que todos sabiam da farsa, menos Rinaldo. O plano era fazer com que o gerente, ao retornar, cedesse a vaga ao nosso ambicioso amigo. Assim, quando o gerente voltou, Rinaldo não perdeu tempo em bajulá-lo. Comentava sobre o treinamento com entusiasmo e sugeria, entre elogios ao chefe, que seria uma excelente oportunidade para ele – mas se o gerente não quisesse ir, claro, Rinaldo estava à disposição. Tudo já estava combinado entre os colegas e, como esperado, o gerente “generosamente” cedeu o lugar para Rinaldo, que, sem perder tempo, foi às compras. Novo treinamento, nova imagem. Comprou roupas elegantes e, nos dias seguintes, não falava de outra coisa.

Aí veio a segunda parte da brincadeira. Os colegas, ainda não satisfeitos com a primeira peça, redigiram outro documento. Desta vez, detalharam os “requisitos” para participar do treinamento: ser capixaba nato, medir pelo menos 1,70 metros e ser torcedor do Flamengo. Rinaldo, com seus 1,60 metros, nascido em Minas Gerais e fiel ao Cruzeiro, viu seu sonho desmoronar. A frustração foi imensa. De repente, o treinamento que parecia o trampolim perfeito para sua carreira virou uma miragem distante.

Os colegas, divertidos, esperavam pela reação de Rinaldo, que passou a semana emburrado, até entender que tinha sido alvo de uma brincadeira. O constrangimento foi grande, mas, no fundo, ele sabia que tudo aquilo havia servido como um lembrete irônico de que a ambição desmedida, sem o devido cuidado, pode levar a grandes tropeços.