DELÍRIO

D E L Í R I O
E P Vogelmann*

Esse seu delírio louco e devoto,
Corre sangue fresco de morte!
Quem te viu correr a pé no cascalho,
Desconhece a força deste porte!

Vê! Busca tudo o que quiser...agasalha.
O corpo é forte quando o consciente o quer.
Se não for, não atrapalha.
Encare com coragem o que vier.

Sorri! Para o mundo mais obscuro,
Sem malícia, onde a fé,
Permite crer em tudo.
Tudo, vindo de Javé.

Ondas altas tão macias,
Água clara cor de gelo,
Tão mais fria que o soluço da morte,
Lhe arrepia as entranhas, o suor e o pelo.

Não temas.
Mesmo que penses, sem sorte,
Não corras de medo.
Nem mesmo, diante da morte.


A arma dispara,
Grito, gemido ao longe, de dor.
Água salgada que mancha vermelha,
Morrendo ainda grita no arpoador.

Vejo o delírio na praia,
Pego meu sonho de medo,
Rasgo uma renda de saia,
Amarro-o no barco sem medo,
E em vão, cavo a arreia da praia.

Busco o naufrágio, cavando com garra,
Busco socorro no fundo do além,
Cantam gaivotas acima,
Meu grito abafado,
Não leva a ninguém.

Rosto sofrido de resto de tarde,
Olhos caídos da noite anterior,
Joga uma pedra no barco delírio,
E vai sonolento ao fundo se pôr.

Águas paradas, sinal de sossego.
Cansado!
Dedos partidos, gemidos de dor!
Sonho delírio parece sangrando.
Morre! Descansa!
Não sonha mais o amor!

Cigarra noturna! Coruja de muitos!
Cantando na tumba do naufrágio,
Recolhe incansável,
Calhordas palavras,
Fazendo um sinal!
Um amor sofredor!
Bebendo veneno, cai corpo sereno,
Repousa juntinho ao naufrágio do amor.

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Inspiração

Em meu livro MORTE JUSTA, apresento quatro contos sobre a morte. Neles, os personagens vivenciam aspectos do cotidiano humano tais como: dor, humilhação, tristeza, desemparo e buscam digerir a saudade que fica de seus entes queridos.
Os contos tratam de temas como suicídio, assassinatos e a gravidez na adolescência.

Sobre a obra

A poesia busca abrir a percepção do leitor para a temática da solidão e do desespero que pode se abater sobre os jovens quando dominados por uma desilusão amorosa.
A poesia desperta para as situação de desesperança que podem conduzir a tragedias tais como, assassinatos, feminicídios e suicídios.
Por último, a ficção e o juízo do leitor.

Sobre o autor

A vontade de escrever, devo as minhas professoras da quarta série. Desde lá escrevo com frequência. Além da literatura, da qual tenho oito títulos publicados, a aposentadoria me permitiu descobrir no artesanato, nas artes plásticas e na escultura um novo e gratificante passatempo.

Autor(a): ERVINO PAULO VOGELMANN (E P VOGELMANN)

APCEF/RS