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CRÔNICA ANACRONICA
A saudade mais uma vez foi pontual e cirúrgica. Nesse dia batia na letargia das nuvens os raios de um sol escondido e a Matriz repicava os sinos. E vinha, aos pingos, a chuvarada. E onde Laila deveria estar só há um ponto de ônibus vazio. Eu demorei a entender, caiu a ficha, era um tour de força entre o ponto vazio e a poça da chuva. Naquele, como em tantos outros, ela não estava lá. E esse é o ponto. A ausência é o alimento da saudade. A consciência sente o que o coração ignora. Minhas conjecturas em alta voltagem, em ponto de fritura, eletrizavam a minha mente. Mas eu sabia, elas eram placebos para iludir o aperto no peito que toda saudade carrega. Assim ia mergulhado nesses marulhos do pensamento. Às minhas costas o ponto de ônibus foi ficando igual a todos os pontos de ônibus de toda cidade grande. E então, chegando, sento-me no sofá da sala. E no meu laptop vejo, salvo, a prosa porosa como uma flor oculta escrita no penúltimo sábado. E a alheio aos vizinhos, como se estivesse num palco vazio, inicio meu monólogo no vazio da sala... Calibre de amor, carece não, couraça no coração, lá ia, lá, trazer você de volta, ia, mas deixa prá lá, deixa prá lá, o carrossel já deu sua volta, o céu já se incendiou, é tarde. A cigarra já explodiu, seu canto sonhou a noite, você sabe Alguém ouviu... Fez secar as folhas pra que a primavera volte. Quantas cigarras eu preciso para me libertar de minha noite? Acerte no escuro, aposte no poste, isso tudo foi um trote ironia do pesadelo, um descalabro, um desmazelo, acoite em tuas axilas as formigas que mastigarão as tuas asas.
Em brasas, ó em brasas, o sol vai ficando mais distante.Houve um sonho durante, mas era só um sonho durante de um amanhã que nos dava sempre a nuca, as costas. Mas não importa, houve esse nunca, batendo às portas. Calibre de amor, carece não, couraça no coração, lá ia, lá, trazer você de volta, ia, mas deixa prá lá, deixa prá lá, a Odisseia já não importa...
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Inspiração
A finitude de tudo. A saudades. A falta, a ausência. A literatura é uma ótima e sublime forma de lidar com isso.
Sobre a obra
Foi se contruindo em partes justa postas. Como um " Frankstein ". Uma colcha de farrapos, um caleidoscópio de palavras.
Sobre o autor
Escrever é uma forma de deixar aos proximos as vivências, os sentimentos e minhas reflexoes. Buscando o registro delas e trazendo aos leitores motivaçoes e alguma contribuiçao às suas proprias reflexões e sentimentos.
Autor(a): ORLANDO PEREIRA COELHO FILHO (Orlando Coelho Filho)
APCEF/MG
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