O Sonho Que Não Foi

O Sonho Que Não Foi

João era um homem comum, desses que a vida passa sem muito alarde. Trabalhava de segunda a sexta como contador em uma pequena empresa, cuidava da casa com zelo e, de vez em quando, jogava na loteria, sempre com a esperança de que um dia a sorte viria bater à sua porta. E, certo dia, ela pareceu dar um sinal.

Num sábado qualquer, João conferiu os números e viu, perplexo, que todos os seus números haviam sido sorteados. Ele não acreditava, checou o bilhete inúmeras vezes, olhou o resultado da loteria em três sites diferentes. Era isso, estava rico! João, de repente, viu sua vida se transformar num sonho de riqueza e extravagância.

No domingo, acordou mais cedo que o habitual, com a sensação de que era um novo homem. E foi assim que começou a espalhar a novidade para quem quisesse ouvir. Primeiro, contou para a esposa, que, depois de um susto inicial, já se via de malas prontas para viajar pelo mundo. Contou para os amigos no bar, que brindaram com cerveja e promessas de festas ainda maiores. João era o homem do momento, e cada vez mais gente aparecia, parabenizando, sonhando junto com ele.

Logo as ideias de como gastar aquela fortuna surgiram como um vendaval. João decidiu que compraria uma casa de praia, um carro esportivo e uma fazenda no interior. Prometeu ajudar os parentes, investir em negócios que nem sabia como funcionavam e, claro, fazer a maior festa da cidade. E assim foi. Antes mesmo de resgatar o prêmio, João já começou a gastar o que não tinha, a planejar uma vida que parecia estar ali, ao alcance das mãos.

A festa aconteceu na semana seguinte. Mesas fartas, música ao vivo, convidados por todos os cantos. João era o rei da noite, com sorriso de quem acreditava que o mundo era seu. Roupas novas, champanhe importado, até fogos de artifício iluminaram o céu. A cidade toda comentava a sorte grande de João.

Na segunda-feira, chegou o grande momento. João, confiante, foi ao banco para resgatar o prêmio. Estava ansioso, mas cheio de orgulho, já sonhando com os primeiros milhões na conta. Ao entregar o bilhete ao atendente, no entanto, percebeu algo estranho. O homem olhava o bilhete com uma expressão confusa. “Senhor”, começou o atendente, “esse bilhete é do concurso anterior.”

O chão se abriu sob os pés de João. Ele repetiu as palavras mentalmente: concurso anterior. O bilhete que ele guardara com tanto cuidado, conferido e reconferido, era o bilhete errado. Ele não havia ganhado nada. O silêncio no banco era ensurdecedor. João, que momentos antes era um novo milionário, agora não passava de um homem comum, com dívidas de uma festa que jamais deveria ter acontecido.

A volta para casa foi longa e pesada. O que restou daquela tarde foi o aprendizado amargo de que, na vida, nem sempre o sonho vem com o bilhete certo.

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Inspiração

Escrevi a crônica na época da Lotofácil de Independência e pensei na situação hipotética descrita na crônica.

Sobre a obra

Foram aplicadas para construir uma narrativa envolvente, mantendo equilíbrio entre humor, ironia e um toque de reflexão.

Sobre o autor

Sou alguém que aprecia as nuances do cotidiano, encontrando inspiração nas pequenas situações do dia a dia para criar crônicas reflexivas e bem-humoradas. Meu estilo combina observações perspicazes com uma leveza que faz com que o leitor se sinta próximo e envolvido.

Autor(a): GERIO COELHO BRAGA (Gério Braga)

APCEF/AP


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