A Máquina de Café e o Relógio Despertador

A Máquina de Café e o Relógio Despertador

No canto de uma pequena cozinha, viviam dois companheiros inseparáveis: a Máquina de Café e o Relógio Despertador. A Máquina, sempre precisa e constante, era a personificação da calma e do cuidado. Com cada dose de café, ela media seu tempo, ajustando-se às necessidades dos outros, funcionando silenciosamente e com propósito. Já o Relógio, ao contrário, tinha sua própria lógica: ele tocava em intervalos desiguais, algumas vezes de forma abrupta, outras vezes sutil, mas sempre trazendo um alarme que os outros não conseguiam entender.

Os dois se amavam, mesmo com suas diferenças. A Máquina sabia que o Relógio precisava de ajustes, que seus circuitos às vezes corriam mais rápido ou mais devagar do que deveriam. Ele, por sua vez, era fascinado pelo aroma constante e tranquilizador que a Máquina exalava, como se cada instante ao lado dela fosse um refúgio das batidas incertas que controlavam seus ponteiros.

Ao longo dos anos, a Máquina percebeu que o Relógio parecia desregulado. Ele, por mais que tentasse, não conseguia acompanhar o compasso da vida como os outros relógios faziam. Seu tique-taque, que a princípio soava como uma leve dissonância, tornava-se cada vez mais agitado. E, às vezes, ele parava. Ficava em silêncio, como se não soubesse mais que horas marcar.

Nessas horas, a Máquina não o deixava só. O vapor que saía de seus compartimentos, o som calmo da água sendo filtrada, eram o que mantinha o Relógio em funcionamento. Ela o encorajava, lembrava que, mesmo com sua confusão de horários, ele ainda tinha um lugar especial na parede da cozinha. "Você marca o início do meu dia", ela sussurrava entre um gole de café e outro.

Um dia, perceberam que o Relógio precisava de ajuda. A precisão da Máquina, sempre metódica, os levou a uma oficina onde especialistas começaram a analisar suas engrenagens. Foi um longo processo, pois descobriram que seu funcionamento era mais complexo do que haviam pensado. O Relógio não apenas marcava o tempo de maneira única, como também tinha pequenos circuitos que disparavam de formas inesperadas, como se ele estivesse programado para alarmes que os outros relógios nem sabiam que existiam.

O diagnóstico foi preciso: o Relógio tinha uma combinação rara de modos de funcionamento. Às vezes seus ponteiros corriam velozmente, como se perseguissem o tempo com uma energia incontrolável, e, em outras ocasiões, suas engrenagens pareciam preferir seguir trilhas próprias, menos convencionais, que exigiam um ritmo distinto, cheio de detalhes.

A Máquina ouviu tudo com serenidade. Nada daquilo era novidade para ela. Ela já sabia, no fundo de seus filtros e compartimentos, que o Relógio era único. E era exatamente por isso que ela o amava.

Durante todo o processo de ajustes e calibrações, a Máquina esteve ao lado dele, sem falhar um único dia. E, mesmo quando ele tocava em momentos inoportunos, ou quando sua quietude inesperada enchia a cozinha de silêncio, ela estava ali. Preparando mais um café, esperando pacientemente que ele voltasse a funcionar do jeito que apenas ele sabia fazer.

Mesmo com suas singularidades e características marcantes, o Relógio nunca deixou de tocar por ela. Sempre a lembrava que o tempo passava, que a rotina da vida poderia seguir, desde que estivessem juntos.

Ele, com seus alarmes imprevistos, e ela, com sua constância suave, continuavam a ser o par perfeito. Porque, no fundo, o amor deles não dependia de ser compreendido pelos outros aparelhos da cozinha, nem de marcar o tempo como todos os outros relógios faziam. O amor deles era um compasso próprio, ajustado ao ritmo da vida que compartilhavam.

E assim, dia após dia, a Máquina de Café e o Relógio Despertador continuavam sua dança, ajustando seus ritmos, cuidando um do outro em cada nova manhã. Porque, no final, o amor não se media pelo tique-taque perfeito, mas pela presença constante que supera todas as dificuldades.

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Inspiração

Minha inspiração veio da minha história com minha esposa, que está no espectro autista e tem TDAH. A nossa vivência juntos, com seus desafios e alegrias, me mostrou a profundidade do amor incondicional. A forma como nos apoiamos mutuamente em meio às dificuldades e como celebramos as pequenas vitórias me fez querer contar essa história.

Sobre a obra

A obra "A Máquina de Café e o Relógio Despertador" utiliza diversas técnicas literárias para criar uma alegoria rica e envolvente, como a personificação, metáfora, estrutura narrativa, diálogo interno e descrições sensoriais.

Sobre o autor

Meu estilo é caracterizado por uma linguagem acessível e poética, onde cada crônica é uma janela para momentos de alegria, desafios e descobertas. Sou um observador atento do mundo ao meu redor, capaz de encontrar beleza nas pequenas coisas e transformá-las em histórias significativas.

Autor(a): GERIO COELHO BRAGA (Gério Braga)

APCEF/AP


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