Estrada Rio Santos

ESTRADA RIO SANTOS


Nesta vida, temos objetos sagrados de recordação e bilhetinhos que nos levam através do tempo a lugares remotos, perdidos em nossa memória.
Pois bem, tenho um crucifixo na porta de entrada da minha casa que me faz recordar minha Lua de Mel.
Tempo especial, casamento bonito, casal inocente, feliz no momento da união.
A igreja, o cartório, a festa, o bolo, os convidados, parentes, pai, mãe, irmãs; eu, a filha primogênita, toda festeira.
Lua de Mel, viagem, tudo organizado com antecedência, sempre gostei muito de viajar. Economias para a viagem, algo sempre necessário, pois, jovens como éramos, o financeiro era um tanto precário, tudo na conta certa.
Escolhemos a cidade do litoral norte do estado de São Paulo, Colônia de Férias, pois éramos funcionários da mesma empresa.
Partimos para nossa aventura de ônibus de linha, intermunicipal.
Dias de praia, dias de sol, retorno com dias contados.
Eu, no meu espírito aventureiro e cheia de mimos e dengos, inventei que queria voltar por outro trajeto via estrada Rio-Santos, para aproveitarmos as belas paisagens daquelas paragens paradisíacas.
O esposo, todo atencioso, atendeu meu capricho.
Assim, no dia de retorno, caminhamos por uns duzentos metros entre o hotel até a estrada para embarque no ônibus; isso no ano de mil e novecentos e setenta e nove, a cidade não tinha toda estrutura que tem hoje.
E lá se vai, o esposo adiante com nossas malas, e eu lentamente, logo em seguida, carregando minha pequena cestinha de vime e o crucifixo comprado na viagem, nossa mobília mais preciosa, para iluminar aquele lar recém-criado.
Embarcamos felizes, viagem linda; quem conhece, sabe quão maravilhosas são as praias do litoral de São Paulo.
Chegando na cidade de Santos, qual foi nossa surpresa, quando desembarcaram todos os passageiros! E eu na dúvida indaguei:
-Por que o ônibus não seguiria para a rodoviária central de São Paulo/Capital?
Acreditem, não seguiria, ali era o ponto final. Para seguir, era necessário comprar outra passagem, aliás, duas, a minha e a do esposo.
Desespero, pois não tínhamos mais “um tostão”, certos de que nossa passagem nos levaria à rodoviária do nosso destino.
Cai em prantos, disfarçada, claro, observando o olhar crítico do esposo, que naquele momento percebeu nossa situação, me indagando com os olhos e agora?
Como a inocência e a falta de experiência nos assustou. Éramos tão jovens e sonhadores.
Vali do choro e da humildade, recorri aos funcionários do balcão de passagens, expliquei nossa condição, à qual fui atendida generosamente, pela graça das pessoas que me atenderam e nos colocaram no ônibus para capital, gratuitamente.
E assim tomamos os lugares nas vagas disponíveis, reservadas aos idosos.
Ao meu lado, ocupava a poltrona uma senhorinha, e toda delicada e curiosa, indagou.
-Vocês são casadinhos de novo? A qual meu esposo respondeu.
-Sou o carregador de malas dela. E se calou pelo restante da viagem.
No meu íntimo, me dei como vencedora, realizei a viagem como eu queria, feliz com o casamento, satisfeita com a compra da cestinha de vime, tão delicada, iluminada com o Cristo que nos acompanhou, simbolizado naquele crucifixo que carrego até os dias presentes, o qual ilumina nossas vidas, na fé, no amor.

Déa Canazza

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Inspiração

Escrevo desde os 16 anos, tenho um diário onde gosto de registrar acontecimentos, ideias e outras histórias.
A escrita flui livremente, e o conto toma formas agradáveis, expressando sentimentos e graça.
Me sinto muito à vontade, dividir com as pessoas, momentos da vida, ora com humor, ora romanticamente.

Sobre a obra

Minhas escritas são criadas por intuição, fluem de um sentimento, uma imagem, um desabafo, um momento, um sonho.
Registro num papel, a lápis ou caneta, para depois corrigir, ajustar, tornar sonora e agradável.
Fiz vários cursos de Escrita Criativa, oportunidades únicas, também aproveito os cursos da Caixa na Rede do Conhecimento.

Sobre o autor

Sou participante constante dos Concursos Talentos FENAE. Este ano tive a oportunidade de lançar meu livro solo de poesias, intitulado: Segredos de Um Divã, lançado na 27a Bienal Internacional do Livro em SP.  
Meu projeto futuro, será criar livro solo de Contos.
Sou aposentada CEF, poetisa, escritora, mãe, avó, bisavó.

Autor(a): DEA CHRISTINA DE LIMA CANAZZA (Déa Canazza)

APCEF/SE


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