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Lenço Branco
LENÇO BRANCO
Em um relacionamento duradouro, chamado casamento, eles subiram ao altar. Festeiros,
felizes. Dia de festa.
Festa que vingou filhos, lutas, muito trabalho, anos e anos contados, findando nas Bodas
de Linho.
Vidas que seguem rumos diversos; filhos que seguem sob a guarda da mãe.
Mãe dedicada, trabalhadeira, atenciosa, convicta de suas obrigações maternais.
Assim cresceram os meninos, fizeram-se adultos, criaram outras famílias, tomaram novos
rumos.
À mãe, que já cumprira sua missão, restou-lhe uma leve supervisão de longe, em alguns
momentos solicitados.
Seus dias de trabalho findos, férias permanentes adquiridas com méritos de dever
cumprido. Filhos criados e netos crescendo sob a tutela dos pais.
Veio-lhe o pensamento; o que fazer da vida? Trabalho voluntário? Já experimentou, não
satisfez. Novo trabalho com registro em carteira e tudo, mesmo ganhando salário mínimo,
só pra ocupar o tempo, sentir-se útil? Enjoou.
Por que não resgatar suas Bodas de Linho interrompida e dar sequência à vida de
casada? Grande ideia!
Abriu mão de sua liberdade, comunicou a decisão aos filhos, juntou suas coisas pessoais
e foi aceita pelo cônjuge, que jurou-lhe amor eterno.
Partiu feliz para o nordeste, a uma cidade que sempre a acolheu de braços abertos.
Brincou de casinha, casa simples com alguns ajustes femininos necessários.
Dias felizes resgatados, banhos de mar, passeios na praça como sempre sonhara. Visita
dos filhos, curiosos, temendo pela felicidade da mãe, muito bem recebidos pelo genitor.
Voltaram tranquilos para suas vidas, acreditando na reconciliação do casal.
E os dias no calendário alterando-se, dia a dia, mês a mês. E o maldito vício da bebida
rondando aquele lar de amor e parceria. Ele se entregando mais ao vício, esquecendo sua
companheira com desdém.
Ela, valendo-se de seus dias de glória, de liberdade, de lutas vencidas, tomou posse do
segundo plano, mesmo tendo acreditado que tudo poderia ser diferente.
Decepção!!!
Furtivamente, conseguiu voo para o sul do país, seu estado de origem. E comunicou a ele
sua decisão já tomada, convicta do rumo a seguir.
Ele sem acreditar, sem entender, sem se dar conta do que acontecia. Incrédulo do que seu
vício lhe causava, furioso, nada pôde fazer.
Não vale aqui julgamentos, apenas o relato, um fato que obviamente poderia acontecer e
aconteceu.
Ela, entristecida e frustrada por mais uma vez se ver falha em seu plano, seguiu seu
destino traçado.
Mas qual foi a alegria compensatória, quando ao procurar em uma agência de passeios,
algo para se ocupar até o dia do voo de sua partida; ofereceram-lhe uma viagem de navio,
da região nordeste ao sudeste.
Seu sonho de menina, tantos folhetos colecionados, agora ali para ser realizado em tal
momento triste, desolador.
Temor sim; desbravar o alto mar, mas com todo luxo, cabine de varanda com toda
mordomia, tratamento "wave".
Como disse sua filha ao telefone:
-Está com medo, vá com medo, mas vá.
Assim foi, com todo glamour, apoiada pelos amigos e filhos, viver sua aventura, mais
uma, de tantas outras.
-Vai sozinha? Estranhou a recepcionista ao embarcar.
- Deus e eu. Respondeu confiante e tranquila.
E a bagagem pesada da mudança de volta!
Foram cinco dias de alegria, com tratamento VIP da melhor qualidade e atenção.
O mar recebendo o choro, um misto de alegria por realizar um sonho, outro por passar
mais uma tentativa de reconciliação frustrada.
Jantares maravilhosos a bordo, muita festa, teatro, show, músicas de diversos estilos, em
vários ambientes luxuosos.
Até a visita ao comando do navio; nada podia ser mais gratificante. Olhar aquele mar
infinito, de posse de um binóculo de grande alcance.
Ah! E teve o coquetel com o comandante com direito a fotos, quitutes deliciosos e muita
elegância.
Último dia do cruzeiro, entrada triunfal no Porto de Santos, ela acenava seu lenço branco,
na varanda da suíte, como vira nos filmes (risos). Os portuários sem entender o que se
passava no coração daquela mulher. Ela estava feliz.
Aí veio a preocupação de como chegaria até sua cidade, sem mar para atracar um barco
que seja, sem ideia de como pegar um ônibus.
Ah! Vou contar-lhes.
Fernanda tinha amigos, das mais diversas profissões. Sacou de seu telefone celular, fez
uma chamada a qual foi prontamente atendida e combinou…
A pessoa dizendo:
-Sim, estou passando pelo Porto de Santos agora… Sim, estou vendo um navio atracar.
Ao qual ela disse:
-Pois estou desembarcando desse navio agorinha. Você me levaria pra casa de carona na
boleia do seu caminhão?
-Claro, por que não, sempre fomos tão amigos.
E ela, aventuradamente, chegou em seu lar, com tantas histórias pra contar.
Seu antigo lar, brincadeira de casinha, porque a vida é uma aventura que se
permite viver, é alegria, é liberdade.
Todas as experiências são possíveis e permitidas quando se tem amor no coração,
quando se acredita no poder de dar certo.
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Inspiração
Tenho o hábito de relatar, ou inventar vivências do dia-a-dia usando a imaginação.
Tenho um diário, já amarelado, onde registro viagens, passeios e acontecimentos dos meus dias.
Isso me trás lembranças para minha atualidade.
Delícia folhear as páginas e viver cada momento com nostalgia.
Sobre a obra
Minhas escritas são criadas por intuição, fluem de um sentimento, uma imagem, um desabafo, um momento, um sonho.
Registro num papel, a lápis ou caneta, para depois corrigir, ajustar, tornar sonora e agradável.
Fiz vários cursos de Escrita Criativa, oportunidades únicas, também aproveito os cursos da Caixa na Rede do Conhecimento.
Sobre o autor
Sou participante constante dos Concursos Talentos FENAE. Este ano tive a oportunidade de lançar meu livro solo de poesias, intitulado: Segredos de Um Divã, lançado na 27a Bienal Internacional do Livro em SP.
Meu projeto futuro, será criar livro solo de Contos.
Autor(a): DEA CHRISTINA DE LIMA CANAZZA (Déa Canazza)
APCEF/SE
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