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A COBRA ENGOLIU
A COBRA ENGOLIU
Rodrigo Passolargo
A Cobra Engoliu a Rua
Perto da Lagoa do Urubu
Como ovo na boca do Teiú
Sem jejua
Dilua
A casa, influa
O poste, ruía
Agonia!
Asfalto farelo fariam
Árvore e mato rangiam
Destrua!
Estômago rugia
Arrotava e engolia
Tumultua!
A calçada míngua
O entorno charrua
Gente e moto na língua
Ônibus, carro e perua
Foi papando toda via
E tudo que havia
Eis que dobrou a rua
e mastigou a ferrovia
A Cobra Engoliu a Ferrovia
Lá perto do Trilho do Senhor
Parecia um liquidificador
Emboscava
de dia
Saboreava a via
Abocanhou sem fava
arroz ou chia
Ferro, prego, balizador
O que custava e não valia
Sua boca
Movia
Envolvia
Abrevia
Mastigava e desprovia
Sua fome
Não alivia
Avia!
Frua!
Avançando na estação
Ela não recua!
Sem pagar bilheteria
Mascava grande grua
Escutou motor que ia
Do trem indo pra Lua
A Cobra Engoliu a Lua
Subiu pela serra da Aratanha
Tal qual uma aranha
Crua
Nua
Rastejando, flutua
Comeu na rebeldia
Ousadia
Fez reco-reco na barriga
Um treco-treco com azia
Tintila
Do céu, estrapilha
Pensava que a Lua
Tinha gosto de baunilha
“Tu leste isso em que cartilha?"
Tem gosto de pastilha!
Mentira!
Tem gosto de ervilha!
Pegadinha!
É igual a farinha!
Invenção sua!
Sabor de sardinha!
Que Falcatrua!
A cobra Engoliu a Lua
e ela logo sabia
Que na verdade tinha
Gosto de Melancolia
A Cobra Engoliu a Melancolia
Para o Rio Coaçu ela correu
E o amigo Rio o socorreu
A boca
Abriu
Bebeu bebeu bebeu
A água que corria
Agradeceu
Chorou
Sorriu
Esperneou
Chão tateou
Jogou para fora
Tudo da barriga
Esquicha!
Almoço, café e jantar
Água do rio, do mar
E por último, arrotou
A lua, que rolou
Rolou
Rolou
Ladeira abaixo pela coxia
Até sumir de vista
A Melancolia.
E a Cobra aprendeu
Que quando comer
E caso faça mal
Amigo a recorrer
Afinal
Sorria!
Quem vomita Melancolia
Só se forra com alegria!
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Inspiração
A ideia foi fazer um poema com teor mais infantil para um Rodrigo criança. Utilizando locais do bairro onde nasci, tento também expurgar - assim como a Cobra - sentimentos ruins para assim dar espaço a criança alegre que reside dentro de mim. às vezes digerimos tanto e esquecemos do que mais nos nutre: amor.
Sobre a obra
Apostando menos é mais, recorro a muitos ambientes do bairro que nasci, universalizando-os através na jornada do apetite da Cobra. Brinco com umas formas de poesia estruturalista, mas sem rigidez da composição textual acima da diversão. Acho que ler como um trava língua com sonoridade alegre de uma contação de história era o que desejava alcançar
Sobre o autor
Rodrigo Passolargo (Rodrigo Miranda) é escritor cearense. Publicou em diversas antologias e é autor dos cordéis O Rei Soim e Corisco e a Anta Esfolada. Roteirista de No Bloco da Saudade, vencedor de Melhor filme no Festival Internacional de Cinema de Curta Metragem. Enredista Escola Corte do Samba. Selecionado para 1° Bienal Livro Caixa (2024)
Autor(a): RODRIGO MIRANDA PORDEUS (Rodrigo Passolargo)
APCEF/CE
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