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DONA CARMELA
Dona Carmela era uma senhora de meia idade que tinha o dom de cozinhar comida caseira deliciosa. Como estava precisando ganhar algum dinheiro extra, decidiu aproveitar esse talento para vender marmitas na vizinhança. Aos domingos ela preparava marmitas e vendia na porta da igreja, fazendo sucesso entre os fiéis que estavam sempre com fome depois das missas.
Porém, o sucesso de suas marmitas não era o único assunto em que Dona Carmela se destacava. Ela era uma fofoqueira de primeira categoria e adorava se meter em confusão por conta disso. Todos os dias, quando alguém parava para comprar suas marmitas, ela logo começava a puxar conversa:
— E aí, Dona Ana, ouvi dizer que a filha da Dona Cida está grávida de novo! Como essa moça faz para criar tantos filhos?
Dona Ana ficava sem jeito, mas não conseguia resistir à curiosidade:
— É verdade, Dona Carmela? Mas ela já não tinha quatro filhos?
— Pois é, minha querida. Agora vai ter mais um para a coleção!
Dona Carmela ria, enquanto Dona Ana comprava uma marmita e saía correndo, com medo de se atrasar para o trabalho.
Outro dia, foi a vez do Seu Joaquim, um aposentado que gostava de conversar com Dona Carmela enquanto comia sua marmita. Ela começou a falar sobre a vizinha dele:
— Seu Joaquim, você sabe que a Dona Zefa recebe visita de homem em casa, né?
Seu Joaquim engasgou com o arroz e soltou a colher na marmita:
— Como é que é, Dona Carmela?
— É isso mesmo, meu querido. Eu vi com esses olhinhos que a terra há de comer. Parece que ela anda saindo com um rapaz novo!
Seu Joaquim ficou intrigado e resolveu investigar a história. Mas quando chegou em casa, percebeu que a verdade era outra: o "rapaz novo" era na verdade o sobrinho da Dona Zefa, que estava visitando a tia para ajudá-la a fazer reparos na casa.
Um dia, enquanto preparava suas marmitas, ela começou a falar sobre um dos seus clientes para sua vizinha. Ela disse que ele nunca pagava suas dívidas e que sempre pedia desconto.
— Dona Carmela: Ai, Lurdes, eu não aguento mais aquele Seu Zé. Ele sempre pede desconto e nunca paga em dia. Dá vontade de mandá-lo catar coquinho e não voltar mais aqui.
— Dona Lurdes: Credo, Carmela, mas ele sempre comprou as suas marmitas. E elas são tão boas!
— Dona Carmela: Pois é, Lurdes. Mas não aguento mais a falta de respeito dele. Ainda bem que eu tenho outras pessoas querendo comprar minhas marmitas.
No entanto, o que Dona Carmela não sabia era que Dona Lurdes era amiga de Seu Zé e contou tudo para ele.
Seu Zé ficou tão bravo que decidiu confrontar Dona Carmela no dia seguinte.
— Seu Zé: Dona Carmela, o que é isso que eu ouvi sobre mim? Eu sempre paguei em dia e nunca pedi desconto!
— Dona Carmela: Ah, Seu Zé, acho que houve um mal-entendido. Eu não quis dizer nada demais. Eu só falei com a Dona Lurdes que você às vezes pedia um descontinho nas marmitas.
— Seu Zé: Não, Dona Carmela. A Dona Lurdes me contou tudo o que você falou. E agora eu não quero mais comprar as suas marmitas.
Depois de espalhar por toda a vizinhança que Seu Zé era caloteiro, outras pessoas na vizinhança ficaram sabendo da confusão e também deixaram de comprar. Dona Carmela, sem entender o motivo na queda das vendas, reforçou a oferta de suas marmitas na porta da igreja.
Certo dia, um grupo de senhoras resolveu se juntar para dar uma lição na fofoqueira. Durante o sermão, o padre anunciou, com um tom misterioso, que haveria uma "grande surpresa" após a missa, e todos ficaram curiosos:
— Meus filhos, hoje, após a missa, teremos uma grande surpresa para todos vocês! Não percam!
A curiosidade tomou conta da igreja. Quando a missa terminou, Dona Carmela estava já posicionada, pronta para vender suas marmitas, mas foi surpreendida por Dona Maria, esposa de Seu Zé, que se aproximou com um sorriso malicioso.
— Carmela, querida, você já ouviu falar da nossa nova feira de trocas? — Perguntou Dona Maria.
— Feira de trocas? Como assim? — Respondeu Dona Carmela, intrigada.
— Ah, sim! Estamos organizando uma feira onde a moeda de troca são fofocas verdadeiras. Mas tem um detalhe: a história precisa ser sobre quem mais espalha boatos na cidade...— disse Dona Maria, piscando.
Dona Carmela sentiu um frio na espinha, mas tentou manter a compostura.
— E quem seria esse, hein, Maria? — Perguntou, tentando disfarçar.
A feira se transformou em um verdadeiro evento, com todos trocando histórias divertidas e exageradas, mas no final, todas as histórias acabavam voltando para... Dona Carmela! As risadas ecoavam pela praça, e todos se divertiam com as histórias que sempre terminavam envolvendo Dona Carmela.
A cada história contada, as risadas aumentavam. Um senhor levantou a mão e disse:
— Eu troco a minha história! É sobre aquela vez que Dona Carmela quase causou uma briga na padaria porque jurou que o pão tinha ficado menor só para enganar os clientes!
Outro morador completou:
— E quem lembra do dia em que Carmela garantiu que tinha visto o fantasma da falecida mãe de Seu Antônio no quintal? Até hoje tem gente que não chega perto daquele lugar!
Como havia se tornado a “vítima” das fofocas, Dona Carmela percebeu que tinha pisado na bola e ficou muito envergonhada. Ela entendeu que a fofoca podia ter consequências sérias. E decidiu mudar seu comportamento.
A partir desse dia, Dona Carmela decidiu usar seu talento para contar histórias de um jeito diferente: ao invés de espalhar boatos, ela começou a criar histórias fictícias e engraçadas sobre os moradores, transformando suas fofocas em contos divertidos, e suas marmitas, além de saborosas, vinham sempre com uma boa risada como acompanhamento. Aos poucos, ela conseguiu recuperar a confiança das pessoas da vizinhança e sua clientela voltou a crescer.
E, claro, Seu Zé se tornou seu maior cliente, garantindo que as histórias sobre ele fossem sempre as mais criativas!
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Inspiração
A história aborda situações comuns em uma vizinhança, como a venda de marmitas e a fofoca, temas que fazem parte do dia a dia de muitas pessoas.
Sobre a obra
O texto usa humor e leveza para narrar as ações da personagem Dona Carmela, especialmente na forma como ela lida com as fofocas e suas consequências. Traz uma reflexão sobre os hábitos ou comportamentos sociais, como a maneira que a fofoca pode impactar a vida das pessoas e a dinâmica em uma pequena comunidade.
Sobre o autor
Acredito que a arte, em todas as suas formas, tem a capacidade de tocar as pessoas de maneira profunda e transformadora. Considero uma forma de expressar meus pensamentos e minhas observações sobre o mundo ao meu redor. Agradeço a oportunidade de dividir o meu universo criativo com um público tão especial.
Autor(a): GICELI DEMUNER DE SOUZA (Giceli Demuner de Souza)
APCEF/ES
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