Escrito confidencial

Naquela tarde invernosa, os pássaros começavam a se aninhar, já que a noite se aproximava. Eu estava repondo a lenha para a lareira e comecei a refletir sobre nosso relacionamento. Uma angústia amarela estava congelada no meu peito quando comecei a pensar nela. Eram velhas páginas de uma admiração antiga e um distanciamento persistente imposto por minha vaidade peculiar.
Deste modo, comecei tentando imprimir o que não me era próprio e tomei emprestado uma pitada de lirismo para ornamentar este escrito. Tudo para impressioná-la. O que sempre importou para mim foi o detalhe, um texto condensado, enxuto e contemporâneo. Nesse ponto, podemos encontrar similaridades ou não, porque a considero mais eclética do que eu.
Se é assim, talvez seja porque ela conhece meu estilo mais do que eu conheço o dela. Eu me sinto obrigado a finalizar tudo o que começo. Não me bastam as palavras soltas. Crio o mistério e lhe dou uma possível solução. Se não o faço, há quem não goste; outros ficam cabulosos. Por outro lado, ela pode ser enigmática o quanto quiser: tudo fica lindo!
Em poucos minutos, o horizonte se fez escuro e me lembrei dos bardos que cantavam versos memoráveis e a faziam nobre sob a luz de candeeiros. Há muito tempo, ela dominava desde os temas mais simples até os mais íntimos sentimentos da alma. Tal versatilidade a fez admirável.
Nos últimos dias, fiquei procurando as estrelas que guiavam os que teciam suas tramas. Confessei que os invejava. Sempre almejei bailar na musicalidade que a acompanha e ser mais livre para expressar os sentimentos. Para mim, o silêncio é apenas um ponto final, mas para ela as reticências assumiam um formato eterno.
E disse isso apesar de saber que há muitos que não a conhecem e ainda há outros que prefiram histórias prontas e acabadas, enredos fantasiosos ou narrativas demasiado cruas. Não quis que ela se sentisse mal com isso. Na verdade, eu mesmo sou refém das minhas estratégias e, por isso, tenho sido tão meticuloso.
Com o coração devidamente aquecido pela prosa poética que lhe dedicava, decidi reescrever em branco papel a minha história com ela, cantar com os bardos versos novos e declarar a todos que sou um contista que ama a Poesia.

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Inspiração

O diálogo entre os diversos gêneros literários e outras expressões artísticas.

Sobre a obra

Escrita em primeira pessoa, apliquei elementos de prosa poética.

Sobre o autor

Escrevo conto, romance e poesia. Tenho trabalhos publicados em coletâneas e revistas literárias.

Autor(a): JEREMIAS REIS COMARU (JEREMIAS COMARU)

APCEF/CE


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