Talentos

CARTA AO AMIGO

Darcinópolis, TO,
Querido Amigo,
Nem te conto quanta aventura, aprendizado, brincadeiras, conhecimento estou curtindo ultimamente.
Depois da autuação dos peixes, que você sabe bem, da missa na fazenda vizinha a quatro quilômetros a pé, tem a missa no bar, já te contei? (risos)
Pois é... Foi no dia da pescaria, sábado passado. A missa com consagração, foi no assentamento do Brejão, a convite da senhora dona do bar. Ajeitaram o altar - tudo muito bonito - afastaram a mesa de sinuca, uma construção coberta de sapé, com aquelas muradinhas ao redor, tudo muito lindo.
O padre (nome difícil, alguma coisa Nael, aquele que já mencionei) veio de Wanderlândia, cidade vizinha. Ele carrega uma maleta com todos os paramentos (assim que fala?). Bem, colocou a batina à vista de todos, eu só olhando, encantada com tanta simplicidade. O ponto máximo foi a chegada de alguns bêbados à missa. Claro que eu estava participando da missa, mas com perdão, não dava pra não perceber o senhorzinho, mais “pra lá, do que pra cá”, discutindo com o padre sobre o jejum, dizendo que o problema não era a bebida e sim o jejum!!!
Isso muito rapidamente pois o padre contornou a situação com maestria, com um simples: -Depois conversaremos!
Achei providencial. Outras situações também aconteceram.
O gostoso foi ver as pessoas participando, as meninas todas arrumadíssimas, aproveitando para lançar olhares para os rapazes.
Menino, vou te dizer, só tenho a agradecer tanta vivência diferente e, confesso, me coloco igual a todos, pois quero ver e aprender mais e mais.
Ah! Pra encerrar a reunião, teve bolo, cafezinho e refrigerantes. Me senti útil ajudando a servir todos.
Dia dezenove de março, foi dia de São José, você deve saber - ai... ai... querendo “ensinar o Pai nosso ao vigário” - pois bem, fomos na reza, agora na fazenda de dona Eva e Zé Carneiro. Na chegada, bastante gente, serviu-se bolo (um bolo duro, mas gostoso, vai saber). Vamos pra reza, na sala, bem espaçosa. O altar todo arrumadinho: castiçal com três velas, a Bíblia aberta (nota: beija-se a Bíblia, um a um). E vai a ladainha, ritmada, repetida, repetida... O terço com todos os mistérios “cantados” em duas notas somente. O engraçado foi que às vezes se perdiam nos mistérios e a outra contestava: -esse já rezou! E eu a observar, e vai ladainha... e vai ladainha, e beija a Bíblia. Bem, duas horas depois, os agradecimentos e passamos para a cozinha. Fogão a lenha, serviu-se almoço pra toda aquela gente. Eu incrédula indaguei pra amiga ao lado: -E vão servir almoço pra todos? Pois vão, diz-se que abate gado pra servirem comida.
Amigo, que delícia de comida. Receosa de faltar comida, comi pouco (estou contando pra você, não espalha). Pois não é que tinha fartura!!! Aí eu repeti né, também sou filha de Deus.
Mas é tudo muito maravilhoso. Cada vez acredito mais na bondade de Deus e quanto mais simples, mais puro.
Na simplicidade que estou vivendo, vou me despedir aqui nesse cantinho, não repare. Se desejar, me peça, descreverei mais situações pra ti, terei o maior gosto.
Estou bem e feliz, com propósito de viver o mais simples possível.
Beijão carinhoso, grata por sua amizade.
DC

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Inspiração

A ideia surgiu quando arrumando meus guardados, em tempo de isolamento social, encontrei o rascunho de uma carta enviada ao meu amigo, onde relatei algumas ocorrências divertidas e diferentes, nas terras do norte brasileiro. Pessoas simples e acolhedoras, as quais aproveito, aqui, para homenagear.

Sobre a obra

Texto de linguagem simples, com alguma conversação, descrição do ambiente, relatando costumes e vivências do nosso povo brasileiro. Aproveitei informações recebidas do curso de Escrita Criativa na Rede do Conhecimento FENAE/APCEF.

Sobre o autor

Sou funcionária CEF aposentada à doze anos, vinte seis anos trabalhados nessa empresa. Tenho três filhos maravilhosos, quatro netos lindos.
Amo registrar em meu diário, momentos especiais. Gosto de escrever poesias, contos, cartas desde menina, as quais me deleito em momentos de saudades.
Sou grata ao concurso TALENTOS FENAE, pela oportunidade.

Autor(a): DEA CHRISTINA DE LIMA CANAZZA (Déa Canazza)

APCEF/SE