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O MENINO QUE QUERIA FUGIR DA ILHA
Márcio morou um bom tempo com seus avós, lá ele era muito feliz, pois brincava nas ruas de sua ilha, com os amiguinhos que também moravam no local.
A maioria de seus amigos eram indiozinhos e todos os vizinhos o conheciam. Márcio por si só era um menino magro, muito sabido e tinha uma habilidade de caminhar muito rápido. Quando a noite se aproximava, às crianças não podiam ficar na rua até ao anoitecer, porque nas noites de lua cheia várias assombrações pairavam por lá, como a mulher de branco que enganava os homens e os levavam para o cemitério o que realmente era assustador. Nesse tempo o avô do Marcio estava muito doente e logo não resistiu e foi a óbito. Os familiares se reuniram e foram prestar as últimas homenagens, porém durante o velório sua avó lhe abraçou e disse: - Meu pequenino, infelizmente não posso mais cuidar de você, os seus pais estão aí fora para te levar pra casa deles. A notícia surgiu como uma bomba e um pouco triste Márcio relutou em não ir com eles, pois não queria deixar sua avó naquele momento triste, porém com muita dor no coração ele teve que ir embora, despediu-se de seus amiguinhos, pois nunca mais os veriam novamente e foi morar com seus pais.
Ao chegar em sua nova casa percebeu que era muito menor que a casa de sua querida avó, era uma casa de madeira e o teto todo coberto com palha amarela, e ao redor da casa tinha um matagal sem fim.Não demorou muito e Márcio já estava fazendo amizades com os poucos vizinhos que moravam por lá. Em sua nova morada o menino verificou que o novo padrão de moradia era bem mais tranquilo pois ele podia ficar até mais tarde na rua de sua nova casa, brincando com às outras crianças. As brincadeiras eram muito mais saudáveis e desafiantes como; manja-pega, manja-bola, polícia ladrão, esconde-esconde, fazer uma roda às oito horas da noite e contar histórias de terror. Sempre que voltava para sua casa sentia saudades de sua avó e desabava em lágrimas pois seus pais não lhe davam o mesmo carinho que sua avó, que já não estava mais naquela ilha. Um dia cansado de viver assim resolveu fugir, pegou um par de roupas, colocou em uma sacola e sem pensar duas vezes foi embora, caminhou muito, muito, muito mesmo, até perceber que estava com fome e, então deu meia volta para casa, ninguém notou que ele havia fugido. Uns quinze dias depois já foi mais preparado e fugiu novamente levando comida, mas enquanto caminhava percebeu que não tinha levado água, (quem sobreviveria sem água?), pensou ele, e retornou para casa, ao chegar próximo a casa, seus pais e vizinhos o estavam procurando desesperados, quando o viram correram em sua direção e seus pais o castigaram com uma surra de galho de goiabeira. Passaram-se cinco dias e ele fugiu de novo de sua casa, caminhou algumas horas e percebeu que a comida havia acabado, foi nesse momento que entrou em uma mata, avistou uma fazenda, pertinho da cerca haviam três goiabeiras, com frutos grandes, cuidadosamente apanhou os frutos e comeu, enquanto estava distraído, viu uma criança negra montada em um cavalo, logo pensou: - Ai meu Deus, deve ser o negrinho do pastoreio que me viu perdido aqui e quer que eu volte para casa. Com medo daquela aparição assustadora resolveu voltar para casa novamente.
No outro dia foi para a escola e cansado de sofrer maus tratos de seus coleguinhas e professores, emprestou uma bicicleta de um amiguinho e fugiu, ao chegar dentro da mata, montou uma pequena cabana com galhos e folhas graúdas e palhas, ficou uma noite escutando passos na mata, sem luz e na companhia de muitos mosquitos, sentiu um arrepio e olhou para trás de sua cabaninha e viu o curupira, montado em um porco do mato, o bicho gritava e assobiava em sua direção, foi uma noite muito tensa que o levou mais uma vez a retornar para sua casa na manhã seguinte.
No dia seguinte, foi na casa de sua madrinha e pediu um presente. Qual presente queres perguntou ela, Márcio tão confiante respondeu; -Quero uma calça e uma camisa bem bonita e um tênis também (a ideia genial dessa vez era tentar fugir de avião e se passar por um passageiro bem vestido) prontamente ela comprou para ele, Márcio abraçou sua madrinha com muita força e em seguida partiu em sua bicicleta nova que comprou com apenas 20 reais, pedalou até chegar próximo ao aeroporto da ilha, dessa vez com certeza conseguirei ir embora dessa ilha, pensou ele, foi para a fila do avião, mas um senhor que conhecia seu pai, logo o reconheceu, pegou-lhe pelo braço e disse; - O que faz aqui? cadê seus pais e mais uma vez os seus planos de fugir da ilha não deram certo. Depois de todos esses acontecimentos, ele nunca mais quis fugir novamente.
As tentativas foram todas frustradas. Márcio segue até hoje na ilha de Parintins onde trabalha num pequeno sítio e cuida das plantações, hortas, galinhas e outros serviços.
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Inspiração
A ideia surgiu quando de uma conversa com um vizinho aqui de Parintins e ele começou a me contar que já tentou fugir de casa 4 vezes. Comecei a fazer algumas perguntas e vi que seria uma história muito boa pra se contar. Os fatos narrados são verídicos conforme relatou meu vizinho. Apesar de eu não acreditar no curupira rsrs
Sobre a obra
Fiz algumas perguntas ao personagem principal, pedi pra ele descrever algo sobre o assunto das fugas e passamos a narrar de forma simples tentando atrair a atenção do leitor
Sobre o autor
Procurando desenvolver meu lado artístico e participar sempre do TALENTOS FENAE
Autor(a): IVAN NUNES MORAES DE MELO (IVAN MELO)
APCEF/AM