41 voltou em 24

41 voltou em 24

A palavra é distopia,
Para descrever a tragédia.
Rios acima da média,
Na enchente de agonia.
Vemos que a Ecologia,
Foi um discurso vazio,
Bateu águas no casario,
E nos galhos do jacarandá,
Nem o muro da Mauá,
Conteve as águas do rio.

Voltaram as águas de 41,
No maio chuvoso de 24.
Esse é o triste retrato,
Da natureza incomum.
Não deixa lugar algum,
Há lagoas nas cidades...
Rios de poucas verdades.
Mentiras inundam as águas.
Digitais das nossas mágoas,
Nos prantos da fatalidade.

A resistência é primordial,
No transtorno da enchente,
Pois cada gaúcho presente,
Na fé da prece na Catedral.
O abraço veio fraternal,
De muito longe e perto,
Oramos de peito aberto,
No lusco-fusco da vela,
Que permeia uma janela,
C’o breu do céu encoberto.

Entre pesadelo e realidade,
O limite nas plagas do Sul,
Saudades de um céu azul,
Pra voltar à normalidade,
Esta louca tempestade,
De choro, fuga e aflição,
Faltou a linha de mão,
Para as pessoas no telhado,
Pelas casas do povoado,
Lágrimas de inundação.

Um Centauro na coxilha,
É o cavalo na cumeeira.
Sendo a maior bandeira,
Da coragem Farroupilha,
E se o Astro-Rei não brilha...
Chove chuvas no chapéu,
Abre as torneiras do céu,
Nas manhãs deste outono,
Sinto ganas de abandono,
Ventania, vento e escarcéu.

O momento é de bravura.
Cooperação... serenidade...
Nos campos... e na cidade...
Que a vontade emoldura.
De longe vejo a estatura,
Numa ilha... o Laçador!
Quis assim o criador,
Esta prova de vida e aço,
O aconchego do abraço,
Calmante para a nossa dor.

O aquecimento é global,
A verdade sem zunzum,
Voltaram as águas de 41,
No negacionismo fatal.
E o vil embate digital,
Na tela do computador,
Teclas de agressão e rancor,
Desgraçam a vida da gente,
Mas vamos serenos e silentes,
Cevando os mates do interior.

41 é uma lembrança,
Do álbum de fotografias,
Suave e doce nostalgia,
Que temos como herança.
É tamanha a mudança,
Neste 24 aguaceiro,
Nem o fraco candeeiro,
Deu luz ao nosso rincão,
E só rio, medo e escuridão,
Sem o calor do braseiro.

As águas vão para o mar,
O rio volta para o leito,
Da Usina eu espreito,
Milongas para sestear,
E uma canção de ninar,
Embala o sonho de criança,
Assim a vida avança,
Nas distâncias de um sol pôr,
Abre um largo corredor,
Numa vazante de esperança.


Retorna o canto da Elis,
Às margens do velho Guaíba,
Uma legião de escribas,
Na saudação do futuro feliz!
Foi-se embora o céu de gris,
E renasce um novo cais,
No Porto dos Casais.
Reflexos de rio no arrebol,
E o mais longo pôr de sol,
Porque Porto Alegre é demais!

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Inspiração

O Rio Grande do Sul foi acometido por uma tragédia climática.
A inspiração veio das enchentes de maio de 2024, recordando as enchentes de 1941.

Sobre a obra

O poema foi escrito em Décimas Espinelas. Um estilo de rimas com estrofes de dez versos. Rimados da seguinte forma:
Primeiro verso rima com o quarto e quinto versos.
O segundo e o terceiro versos são rimados.
Os versos sexto, sétimo e décimo são rimados.
E oitavo e nono versos também.

Sobre o autor

Nascido em Santiago-RS, Athos Ronaldo Miralha da Cunha é graduado em Engenharia Civil e aposentado da Caixa.
Autor de oito livros dentre crônicas, contos e um romance: O código Locatelli.
Detentor da cadeira número 5 da Academia de Letras da Região Central – ALERC-RS.
Detentor da cadeira número 32 da Academia Santa-Mariense de Letras – ASL.

Autor(a): ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA (Athos Ronaldo Miralha da Cunha)

APCEF/RS


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