Minha casa

Minha casa

Um sonho tão distante
Ainda cedo pensei
Se um dia pudesse mudar
Pau a pique, adobe, palha
Chão de terra batida
E a rede a embalar

Cresci com esperança
Às vezes sem acreditar
Trabalhando dia a dia
Na lavoura em dura lida
Lama, lágrima, suor
De domingo a domingo,
Sem falhar

A terra, minha morada
Alimento para minha família
Entre sorrisos no enluarar
Improvisando brincadeiras
O rádio no fundo a tocar
Não que fosse de todo ruim
Mas bem que podia melhorar

Um dia, convocaram uma reunião
Lá começaram a discursar
Parece que lembraram de nós
Nos entreolhamos: “Será?”
Medo, desconfiança
Um burburinho tomou conta do lugar
Minha casa, minha vida?
Não sei se podemos confiar

Meses seguiram correndo
No coração, a ansiedade a palpitar
Entrevista, assinatura, documentos
Só acredito vendo
Mesmo assim, todo dia rezo
Para o Senhor abençoar

Um caminhão trouxe tijolos,
Areia e cimento logo vêm
Um papel com um projeto
Dois quartos, sala,
Banheiro, varanda
Cozinha e área de serviço também

Pouco a pouco, as paredes subiram,
Caibros, ripas, telhas
Piso e revestimento
O mais incrível é o banheiro
Conforto e privacidade
Chega dá gosto olhar
E eu que usava
Um buraco no chão
Ao ar livre e com a cerca ao redor
Agora com louça e até forro!
Vou ter que me acostumar

Vez ou outra, um homem da cidade
Capacete e identidade no colar
Prancheta e caneta na mão
Anota tudo o que foi feito
Arquiteto ou Engenheiro
Aponta erros e acertos
E promete que vai voltar

Minha casa ficando pronta
Os olhos até marejam
Fico vendo o meu desejo
Enfim se concretizar
Não tem mais terra batida
Nem barro, esconderijo de inseto
Ambientes delimitados
Esgotamento sanitário
A caixa d`água fica em cima
Mais qualidade de vida
Ânimo para recomeçar

Se antes, já era grato
Por todas as oportunidades
Agora, com mais conforto,
Descanso com segurança,
Já me vejo levantando cedo,
Abrindo a janela para o sol entrar,
Tomando um banho de chuveiro,
Enxada apoiada no ombro,
Energia renovada
Para o campo lavrar

Permanecerei na andança
Da terra, a sobrevivência
Basta ter resiliência
Peço perdão à desconfiança
Vi que sonhar vale à pena
Minha casa,
A minha vida
Se encheu de esperança!

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Inspiração

A idéia surgiu com o recente trabalho como Arquiteta Caixa, ao analisar projetos do Minha Casa Minha Vida Rural e visualizar o relatório fotográfico das unidades que serão substituídas. Ao elaborar a poesia, quis me colocar na visão de beneficiária do Projeto.

Sobre a obra

Reuni as histórias e sentimentos de um morador da zona rural que será beneficiado com uma unidade habitacional do Programa Minha Casa Minha Vida Rural.

Sobre o autor

Sou Arquiteta da Caixa há apenas 2 meses, porém funcionária da Caixa (Nível Médio) desde 2013. A escrita sempre foi uma das minhas principais válvulas de escape. Aproveitei esse momento de tanta felicidade profissional, ao ingressar na área que sempre sonhei, para elaborar a poesia em consonância com o trabalho que estou desenvolvendo.

Autor(a): NATHALIA ARAUJO DA SILVEIRA LEITE (Nathalia Leite)

APCEF/MA


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