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Cai a casa do Caio
Cai a casa do Caio
Aliteração pede passagem,
Porque cai a casa do Caio.
Demoliram a casa do Caio
E a imagem desfigura...
Caio nasceu em Santiago,
Morou em Porto Alegre.
E caiu nas graças da literatura.
Se cai a casa do Caio...
Cai um pouco de cada um,
E o nosso passeio literário,
Cai no lugar comum...
Um reforço estatístico,
Do descaso em demasia,
Com o legado cultural.
Os exemplos a lo largo,
Pelo Rio Grande campo fora.
Que anda assim...
Meio atirado às traças ...
Nos meandros da burocracia.
A lista é grande,
Do patrimônio sucateado...
Cai a casa do Caio,
E nasce um empreendimento.
Um edifício com o nome do Caio!
Caio Fernando Abreu!
Escritor de Santiago do Boqueirão.
E uma foto em preto e branco.
Emoldurada no hall e no breu...
Dos sentimentos e da dor.
E uma pequena biblioteca,
Com outra foto do escritor.
Para condôminos desatentos...
Caio não é Borges!
Caio não é Lemes!
Caio não é Netto!
Caio não é Flores!
Caio é Fernando Abreu.
Porque se assim fosse
Não cairia a casa do Caio.
Qual a cor do lenço do Caio?
Nesta planura de concreto.
Chimango... Maragato...
Neste pago incerto,
Caio usava chilenas de prata?
E alpargatas pretas com cordas?
Não sabemos... mas concordo.
Caio era apenas o não-padrão...
Caio peleava com a pena.
E era indomável na escrita.
Textos sem moldura e sem patrão.
Cai a casa do Caio...
Aliteração linda e sonora.
Perfeita para os escombros.
Das contradições.
Do aqui e agora...
Na casa do Caio que não cai,
Há morangos mofados,
Ovo apunhalado,
Pequenas epifanias
E muito mais...
Na casa do Caio que não cai
Há vida gritando nos cantos.
E o berro longo desatina.
Há um conto a ser escrito:
Cai a casa do Caio!
Caímos todos um pouco
No centro dessas ruínas...
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Inspiração
Caio Fernando Abreu é um dos maiores escritores do Rio Grande do Sul.
A inspiração veio quando a casa em que Caio morou em Porto Alegre foi demolida para dar lugar a um empreendimento imobiliário.
Sobre a obra
O poema foi inscrito de forma livre e solto partindo do princípio de uma aliteração.
Sobre o autor
Athos Ronaldo Miralha da Cunha é engenheiro civil e aposentado da Caixa. Autor dos seguintes livros:
Os agachados (2012), Contos de Chumbo (2015), Tintos e Contos (2017), O código Locatelli – romance – (2018), Sofrendo em Paris (2018), Contos de Prata (2020), O Zapzap das flores (2022), Peleias – contos – (2022) e Última payada – poemas – (2024).
Autor(a): ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA (Athos Ronaldo Miralha da Cunha)
APCEF/RS
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