Não há no mundo ser mais abstrato Que todas as palavras possam nominar Quem já viu, como um retrato, Pode de “Fantasma” o chamar
É um tipo raro em sua essência Mas que infelizmente ainda se vê Cada vez mais – vil coincidência! Passar em cores, no rádio e na tv
Fantasma não tem corpo nem formato “É ser etéreo” - alguns dirão Fantasma atrapalha a vida, isso é fato Pois Fantasma, no fundo, é maldição
Nem sempre fala bem alto Ou se deixa ver sob alvos panos Esconde a falsidade de seus atos E reaparece a cada quatro anos
Fantasma tem energia latente Que aparece de sopetão Bradando forte, urro premente Inscrito na patente “capitão”
Muito coitado fantasma engana Com sua ira ranzinza de fariseu No interesse nobre da grana Financia incontinência de pneu
Outros de risco dizem sem receio Chamadas vozes de resistência Que quando Fantasma entra no meio Perigo é levar o país todo à falência
Falha múltipla na moral Na decência e nos bons costumes No fim transforma o bem em mal Lanhando a pele em seus curtumes
Cubículos repletos de falsidade Onde o séquito ergue seu castelo Enquanto o povo chora na cidade Sofrendo no próprio couro o flagelo
“Importam interesses individuais Tão meus assim e meus somente Tuas necessidades são tão banais Que sequer as vejo em minha frente”
Assim pensa Fantasma em seu âmago Sobre as vontades e o bem comuns A nós sobra o remédio amargo De desistirmos um a um
Digo, pois, a quem quiser ouvir Ressoa alto o grito de alerta Com justiça e honra o Existir Não deixa na pele ferida aberta
A consciência é são remédio Para quem teme o mal por vir Sacode o medo, espanta o tédio Faz no peito a felicidade ressurgir
Nestes últimos versos então lhe digo Com paz e carinho no coração Não seja tolo, meu amigo Não alimente assombração
Que sirva o passado de lembrança Para evitar futura desolação Porque a ignorância sempre volta Como um fantasma na eleição
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Inspiração
Queria fazer uma crítica social à nossa realidade dicotômica. Acabei falando sobre fantasmas.
Sobre a obra
Verso livres, prosa ligeira. Poesia rápida e rasteira, de rimas inocentes. Poeminha cadenciado, gostoso de ser lido de uma pegada só. Quem sabe ali no fundo, por debaixo dos lençóis brancos dos fantasmas de hoje, alguma reflexão fique voando no ar.
Sobre o autor
Publicitário de formação, economiário de ocupação e escritor de coração, sou um contador de histórias de final de semana. Autor dos livros "Prazeres" (contos eróticos), "Atemporal" (contos) e "Diário do Lobo Solitário" (romance a ser lançado ainda neste ano de 2024), gosto de retratar cenas banais do cotidiano amplificadas pelo filtro do absurdo.