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Operário das Letras
Quero ser escritor. Na verdade, quero escrever um livro, o que não realiza o desejo anterior, necessariamente. É sabido que nem todos os produtores de textos são escritores. Em qualquer livraria pode-se perceber, observando as estantes, que livros há vários, mas escritores nem tantos. Portanto, seria cauteloso afastar a necessidade da alcunha de escritor e contentar-me em escrever um livro.
Não sei desde quando aspiro pertencer ao rol dos escritores - desculpem-me - dos produtores de textos. Não me vem da infância, estou certo. Nesta idade tinha outras preocupações. Algumas não peculiares a esta fase da vida, outras bem comuns. Como ter medo do escuro e dormir sempre coberto. Paradoxal. Não me recordo de no processo de aprendizagem da leitura com gibis, em sua maioria da Turma do Mônica, projetar-me no futuro um Maurício de Souza. Até então, nas minhas crenças, um escritor. O que de fato ocorria nesta idade era meu encaminhamento ao mundo dos desenhos. Sem saber, desenvolvia o talento que de fato me aproximava do criador de Bidu e companhia. Era comum reproduzir desenhos de revistas de super-heróis e similares. Chegava ao ponto de decorar traços alheios e repeti-los a qualquer momento. Mas pecava pela falta de originalidade, o que acredito ter podado este pseudotalento. Era constrangedor comparar meus desenhos com os de outras crianças, que não deviam nada por suas criações. Se investisse, tornar-me-ia no máximo um fraudador.
Na adolescência mantive a mania de desenho. Nada mais criativo, por isso menos intenso e regular. A novidade é que os desenhos passaram a dar lugar às letras. Convencido da esterilidade de minhas artes gráficas, passei a combinar palavras. Atividade típica da idade em que o coração é terreno fértil para as angústias amorosas. Até trogloditas semianalfabetos escrevem versos nesta idade. Não me venham com discursos homofóbicos! Lembro-me de passar horas a fio com o dicionário sobre a mesa, procurando rimas elegantes para palavras que quase sempre o significado desconhecia. Chegando ao exagero de versar com almíscar. Nada sedutor. Embora os métodos iniciais não tenham sido os mais elogiáveis, os frutos passaram a tombar ao meu alcance. Mesmo que em número reduzido, os namoros resultantes destes poemas existiram. Mas não foram suficientes para convencer-me de que seria um poeta. Pelo contrário. O baixo desempenho como sedutor, ou melhor, as desilusões – coragem homem – mostravam-me que seria melhor iniciar-me no ofício das crônicas, contos e romances. O que acabou se concretizando quando, impetuosamente, rasguei e queimei minha minúscula obra literária, realizada até então. Matei-me como poeta e dei-me à luz como escritor. Desculpe-me novamente. Quis dizer produtor de textos.
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Inspiração
Este texto é apenas mais um fruto da minha insegurança, do meu complexo de vira-lata, do meu eterno processo de buscar a parte boa até no mal completo. É um pedido de desculpas por fazê-los dedicar tempo ao resgate desta personalidade confusa.
Sobre a obra
Na minha escrita não há técnica. Não há ensaio. Não há treino. Nunca houve. Eu escrevo como um garoto que joga o mau futebol nos campos de terra batida. Ele chuta e erra gol. Ele tenta driblar e erra a bola. Aí, no próximo jogo, ele lembra do fracasso passado e tenta fazer diferente. Eu escrevo da mesma forma que vivo.
Sobre o autor
Meu nome é Luiz Eduardo Barros dos Santos. Tenho 39 anos. Sou sagitariano, de 14 de dezembro, e não sei o que isso quer dizer. Gosto de música, cinema e livros. Apesar de não expressar esse gosto com regularidade. Sou morador da Baixada Fluminense.
Autor(a): LUIZ EDUARDO BARROS DOS SANTOS (Luiz Eduardo Barros )
APCEF/RJ