OVNI

OVNI
? = b² – 4ac, V= Ab.H/3, a²=b² + c² e a Lei dos cossenos: a²=b² + c² – 2.bc.cos(a), são algumas das fórmulas matemáticas que dão a certeza de que não sabemos ler. Assim, arrastando-me como um caramujo, nessa junção impiedosa entre letras e números, consegui chegar à terceira série do ensino médio. Para muitos, atitude de coragem, para mim, por muito medo, sentei-me na fileira da frente, longe da animação do fundão.
Três semanas depois, chega a nova professora de matemática. Parece difícil encontrar quem queira dar aulas de exatas. A novata era nova mesmo, assustou-me. Rostinho de 19. “A Matemática ficará menos assombrosa este ano”, pensei.
Assim, iniciou a aula. As fórmulas matemáticas, pelo menos a maioria, não serão desvendadas. O mistério de o porquê muitos colegas resistirem a se sentarem na fileira da frente, sim, pois muitos professores mal conseguem lanchar com os poucos minutos que têm, quanto mais fazerem a assepsia bucal, fato é que muitos até dirigem-se à sala de aula finalizando seus lanches ainda pelos corredores equilibrando seus livros e papéis, sendo acudidos por algum aluno mais empático.
Bastando assim, ter uma única fricativa na frase- os professores de Língua Portuguesa sabem o que é e podem evitar- para sem querer, cuspir na direção dos alunos, como uma bala, um pedaço de pão que certamente acabara de mastigar.
Eu, inocentemente descobri, o perigo dos fonemas fricativos labiodentais pela prof de Matemática. Com um OVNI lançado em minha direção.
Eu achava que meu problema seriam os problemas. Não aquela massa em movimento. Não a fórmula inicial e final. Não aquele Ovni monstruoso grudado na minha pele. Ali, bem perto dos meus olhos parecia um universo. Não aquele pedaço de pão mastigado.
Aquela mútua confusão mental diante do olhar da coitada da professora que também ficou sem saber o que fazer, enquanto fixava seus olhos quase nos meus olhos, vendo o resultado da sua cuspida.
Diante da inexperiente professora, antes mesmo de terminar sua apresentação, lá estava eu quase cavando a minha reprovação. Faria eu um comentário? Levantava-me e imediatamente, dirigia-me ao banheiro? “Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas”. Eu não era o mundo, imundo.
Produzido pela responsável por fiscalizar as estratégias ilegais dos alunos. Aquele objeto estranhamente colou com a cuspida. Voou e aterrissou com tamanha rapidez que nem que eu conseguisse converter os segundos em décimos, centésimos ou milésimos, calcularia o tempo de deslocamento daquele corpo nojento e estranho grudado perto das minhas retinas ainda não tão fadigadas.
Dessa forma, brigando com os pensamentos face àquele monstro ali próximo aos meus olhos. Eu, mais rápido que um cometa, com a ponta do dedinho mindinho, capturei o objeto voador -ainda mole e identificado e, sob o olhar da jovem professora o comi, nem mastiguei.
Rendendo-me um leve sorriso, uma piscadinha de espanto. E uma aprovação como o melhor aluno da sala em Matemática, sem sabem ler fórmula alguma.

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Inspiração

Como professor de Língua Portuguesa, sempre fui a favor de haver aula de leitura. Crítico à pratica de exercícios pós leitura. Acredito que a leitura deve ser o foco único da aula de leitura. Ninguém faz uma bolo sem antes passar pela prática de fazer uma bolo sem receita. A leitura requer uma receita, uma técnica, logo deve ser ensinada.

Sobre a obra

Usei algumas fórmulas matemáticas que não sei nem pronunciar para mostrar o quando não sabemos ler na sua totalidade. A crônica mostra como passamos por cima do que não sabemos ler para finalizar a leitura. Em alguns casos fica uma lacuna por todo sempre, Neste caso, talvez não faça tanta falta à compreensão do todo.

Sobre o autor

Fui Professor efetivo de LP aqui no ES. Conterrâneo de Drummond. Sempre amei a leitura. Sempre muito crítico, em alguns lugares, visto como polêmico. Sempre gostei de escrever. Resultado da leituras de revistas que eu catava no lixão de São Pedro, em Vitória-ES onde trabalhava com minha mãe à noite.

Autor(a): WANDERSON MARTINS DA SILVA (Wanderson Silva)

APCEF/ES

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