SE EU FOSSE DEUS

SE EU FOSSE DEUS

Se eu fosse a inteligência suprema, possível causa primeira de todas as coisas, à qual se convencionou chamar de Deus, no tempo em que o tempo não existia, eu o criaria.

E criaria o céu. Não o céu para onde vão os religiosos salvos. Criaria o céu das andorinhas, das nuvens, dos astros...

Em seguida, criaria a terra e tudo o que nela há, menos o homem.

E do topo das minhas infinitudes, eu observaria a minha obra. E gostaria muitíssimo de tudo aquilo. Acharia, naturalmente, divino. E numa simbiose entre criador e criação, eu me faria onipresença podendo ser encontrado no microrganismo que, incógnito atua na raiz do Baobá garantindo-lhe a majestosa sobrevivência, assim como no colorido esfuziante das nebulosas e galáxias.

Neste momento, talvez, eu chorasse. Não de tristeza. Choraria como algumas pessoas o fazem ouvindo a “Bachiana número 5” de Villa Lobos, “À flor da pele” com Zeca Baleiro e Gal Costa, etc.

Então, mesmo conhecedor de todas as coisas, do porvir, inclusive, eu criaria o homem. Criaria, mesmo ciente de que seria tratado por alguns como um bedel, office-boy ou dono de um shopping de vaidades.

Eu o criaria porque, entre a dor da solidão diante do belo e a dor da incompreensão, a segunda me seria menos atroz.

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Inspiração

Uma reflexão em torno da solidão humana.

Sobre a obra

Um texto livre que pode ser caracterizado como prosa poética.

Sobre o autor

Desde a infância tenho grande afinidade com a leitura e a escrita, o que me levou a cursar Letras. Tenho três livros publicados (poesias, contos e acadêmico). Atualmente procuro agregar aos meus escritos um viés filosófico.

Autor(a): ALDENIR DANTAS DA COSTA (ALDENIR DANTAS)

APCEF/RN

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