Talentos

FLORBELA MEQUETREFE

UM DIA NA VIDA DE FLORBELA MEQUETREFE (RITIMO E PULSAÇÃO DE FAUSTO F)
O relógio da FACIT marcava 22h00min horas. Florbela Mequetrefe, súbito, vaza picada no seu possante Picanto preto, prá delírio lírico pornô de pupilas exauridas por toneladas de teorias apopléticas que não explicam mais ninguém. Picanto preto, painel de avião, teias de aranhas aplicadas no pára-choque prata. Encarnação da loira do banheiro, da mulher de algodão. Em seu primeiro ano da Faculdade, em seu primeiro faz... De conta. Aos trinta e sete, violentos desejos espocando pela carne branca, sufocado nas malhas apertadas, estrangulada por corpete de escamas de dragão, escamas de dragão! Escamas afiadas qual navalhas que laceram ao menor olhar, que rasgam ao menor contato... o coração.
Florbela Mequetrefe de lascivas castigadas, drapejada de hematomas tatuados, descolados nos encontros clandestinos. No bate e bate escondidinho dos carros de canalhas carentes, cretinos rapagões de motos envenenadas, covardes canalhas casados, punks da demência mega controlada. Escolar da pauleira pink cultivada em camas de motéis mofados. Barbie contrabandeada da Bolívia em dildo gigante Cyberskin, como santinha embutida em vela de macumbas esotéricas que acendeu, queimou, derreteu, fim. A luxúria estapafúrdia cercada de pancadaria camuflada, de estivadores da Sociologia imaculada e sem firulas, atropelada por antros e pélagos de exóticos lugares especulares.
Mequetrefe, Florbela, com suas cedilhas catastróficas e seu português caótico, mostra seus troféus, seus íntimos roubos de consortes, espúrios raptos súbitos de livros, tomados na mão grande, dando elza nos otários. Na mão grande! De intelectuais metidos a Clark Gable e Lawrence das Arábias. Florbela a de cabelos amarelos, a de cabelos de KY. Montada por maquiagem gótico-barroca, traveca à La Bardô, que irá esmigalhar seus sonhos de amor, seus sonhos bordos. Bonequinha, Bibelô da Babilônia, esperteza descolada purpurina, rainha sucateada de tronos de bidês amarelados, com seus cetros de duchinhas cromadas. Ao passar deixa metros do meio fio exalando à cedro recendendo das axilas depravadas, axilas depravadas como asas depiladas, arcanjo, súcubo selvagem na voltagem suga sonhos. Suas unhas roxas, tenazes no peito dos rapazes medonhos, dos lorpas, dos pascácios, dos pipocas pitbull. Vernissage psicodélica, sarau voodoo, ice e rum nos olhos rubros como um sol crepuscular sangrando no fim da tarde.
Florbela Mequetrefe aura de giletes e navalhas, olhares de Bride of Chuck, ombreiras de celulares confidenciais com seus colares de arames farpados e veias estouradas. Quem da mais na planilha de notas escolares? Quem dá mais? Por sua alma de lâmina, seu coração de cavas caóticas, suas risadas de carros envenenados, lusco-fusco? Artimanhas de aranhas descendo pelos seios e meias de seda, sexo de corvéias e camas vibratórias de lençóis de puxadinhos, mentiras compradas nas boutiques da infâmia, dos orgasmos desviados do bazar do faz de conta, de lupanares lunáticos e alvejados e limpinhos, por água santa sanitária de Lindóia, em frascos de vidrinhos de perfume Scarlett, Scarlett Cacharrel!
Florbela Mequetrefe salpicada por serpentes e confetes num canavial de esqueletos fervorosos e bonecos de Olinda estilizados. De campana, a espreita, na próxima sala de aula, tão bacana, na próxima esquina lhe abocanha, embaixo de uma árvore de camisinhas penduradas feito vagens. Florbela Mequetrefe a de Romances mafiosos e performances contrabandeadas de internet piratas com seus segredos de garagens... Quer um beijo teu, quer um beijo teu, quer... Um beijo teu! O relógio agora marca: 22h15min.

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Inspiração

Situações existenciais que surgem como metáforas na teia do cotidiano. Servindo de inspiração e captadas pela "lentes" sentimentais do autor

Sobre a obra

De caráter existencialista, em escrita com técnica que beira o leitmotiv, além de uma espécie de Jogral baseado na obra/música: Básico Instinto, de Fausto Fawcet.

Sobre o autor

Publicações como essa, escrita no concurso, acabam sendo publicadas nos jornais locais e revistas do gênero. É oriunda de intensa pesquisa e exercício de escrita desde da adolescência, antigo ginasial em Copacabana.

Autor(a): ORLANDO PEREIRA COELHO FILHO (Orlando Coelho Filho)

APCEF/MG